terça-feira, 26 de setembro de 2017

The Truman Show

 Boas,

 Já fazia algum tempo que não voltava aqui, estava de férias digamos. Mas, agora, de volta á realidade deste show da vida real, fui hoje levado a crer que isto tudo não passa de um grande Big Brother, de um Peep Show Global onde algumas perversões acontecem, de forma a que alguém se divirta á grande com as cenas que nos vão acontecendo.
 Isto é tal qual um Truman Show e cada um de nós é um Jim Carrey, vídeografado do nascer até ao morrer.
 Hoje, as coisas não correram bem para os lados da produção e um dos figurantes, ou actores secundários, deve ter sido despedido.
 Entrou-me na loja a meio da tarde e deve-se ter esquecido das falas. Embora eu já tenha falado do estranho caso de invisibilidade neste post que afecta todos os lojistas, este não foi de todo o caso. Trata-se sim de todo um novo mundo da teoria da conspiração que pretendo explorar e que me deixa intrigado - será isto tudo "real"?
 O tipo em causa dirigiu-se imediatamente aos modelos masculinos, tão rápido, que a pausa que normalmente faço entre a saudação e o questionar das necessidades não existiu. 
 Mal acabo de fazer a pergunta ouço uma resposta, mas imperceptível e eu, como me dizem que ando a ficar um pouco duro de ouvido, repeti a pergunta - "Precisa de ajuda?" - a resposta foi um esclarecedor" Bharrhc khum hãhã", quer dizer isto foi o que eu ouvi!


 Como podia ser estrangeiro disse-lhe "Português?", que é basicamente a mesma coisa do que lhe dizer - " Ó melro respondes ou vou continuar o monólogo?" - e... para meu espanto, tossiu! Bom, deve estar mal da garganta, ou está constipado, ou é muito, muuiiiiito tímido. 
 Mas não, não era, era um actor, bem, ok, um figurante com falas, vá, não quero ofender a quem tem essa nobre profissão. Isso ficou claro porque recebeu uma chamada que atendeu apressado, como se o estivessem a livrar de um peso enorme a qual desligou apressadamente, para me perguntar logo de seguida - "Desculpe lá, mas este modelo só existe nesta côr?".
 Mau, espera lá, até á quinze segundos só falavas Gregoriano e agora fluis Português como se estivéssemos a ter uma conversa á trinta minutos?
 "Sim!" Respondi-lhe, ao que me respondeu "Obrigado", desatando em passo rápido para fora da loja.
 Lá está, figurante...dos fraquinhos, nem para interagir deu. Assim não dá canal régie! Assim sou obrigado a dizer - "No caso de não os voltar a ver, Bom dia! Boa tarde e Boa Noite !" 



domingo, 20 de agosto de 2017

Vacations

 Pois é...

 Se existe alguma altura do ano, pela qual, todos esperamos, essa é sem duvida, a época de férias.
 Chegou a minha e perdoem-me, mas vou estar ausente o máximo possível da vida cibernética, já que a seguir ao trabalho e vida pessoal, é sem dúvida o terceiro maior consumidor de tempo. Assim, eliminando dois deles temporariamente, posso desfrutar do que resta em modo "Dolce fare niente".
 Exacto, nenhuns, nickles, rien, nothing, nada ! Sim porque eu quando tiro férias, são férias!
 Faz-me alguma confusão, aquelas pessoas que vão de ferias, mas, que afinal criam um todo novo conjunto de rotinas, planos e afazeres.
 Quer dizer, se vais de férias, para quê toda a trabalheira? Porque é que tens efectuar X compras, ter horas para isto e para aquilo? Para isso não tiravas férias! Dizias ao patrão que preferias continuar a trabalhar, que assim mantinhas rotinas e ganhavas mais pastel!
 "Ah e tal, vejam lá se não se atrasam e chegam a horas!" - O que é isso chegar a horas? O que é um Relógio? Vais picar o ponto?
 Durante as férias, só existem 3 momentos, o Amanhecer, o Anoitecer e o período que compreende estes dois pontos, que pode ser maior, menor, igual, é indiferente, desde que te saiba bem, como os divides e gozas é contigo.
 Isto se não te queres arriscar a ter umas férias como as da família do filme "Vacations" de 2015 - que no fundo é um remake de "Uma paródia de ferias" dos anos 90 com o Chevy Chase- onde fazes uma centena de planos para a férias perfeitas e que depois acabam em ser tudo menos férias!


 Bom descanso! Boas férias!

terça-feira, 8 de agosto de 2017

The Birthday

 Boas,

 Hoje é dia, dia de comemorar, quando fiz a minha entrada triunfal neste belo mundo que é o nosso! Posso dizer com segurança que sou um tipo positivo! Gosto de ver a vida pelo lado colorido! Até porque, sejamos sinceros, de outra forma, isto não tem piada nenhuma!
 Coisas do do tipo -" Está tudo bem?" - "Vai-se indo, como pode..." ou" a vida está difícil". Comigo não funciona. Está tudo bem?Está! É só obrigado e volte sempre, agora cá lamechices e auto comiseração ? Para quê? para terem peninha do menino?
 É isso e por exemplo falar de doenças! Irra ! Que mania! Falar de doenças porquê? Qual é o gozo? É uma competição para ver quem o mais podre? - "Ah caiu-me um bracinho!Já não me apanhas no campeonato da gangrena!".
 Ser negativo, não é uma hipótese é uma seca, ser pessimista não é olhar as coisas com cuidado, é partir derrotado do início. 
 Por isso e porque sei que não sou o único... Feliz dia!!!!!!


quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Dead Poets Society

 Boas,

 Hoje cheguei á conclusão, após ter repetido a mesma resposta um trilião de vezes, que eu, assim como os demais companheiros e companheiras que trabalham no mundo do retalho, pertencemos a uma sociedade secreta.
 Não algo pouco claro, ou com conotações malignas como Maçonaria ou os Iluninati, algo mais soft, mais do tipo como um grupo de amigos que sabem os segredos uns dos outros, têm umas expressões comuns e vivem as mesmas experiências.
 Ao estilo do Clube dos Poetas Mortos, só que aqui, não temos um professor tipo Robin Williams, a quem possamos dizer - "Oh Captain, my Captain!" - (é ainda maior e mais sábio e dá-se pelo nome de Vida), e não lemos livros, lemos preços.



 Preços - é disto que vos falo aqui hoje!
 O que é que se passa com as pessoas e os preços? Não entendo, juro! Quer dizer, se eu entro num estabelecimento qualquer e quero saber o preço de um determinado artigo, olho para o preçario, ou para etiqueta, conforma for a politica de pricing do estabelecimento.
 Não, repito, NÃO pergunto o preço ao funcionário/a segurando o artigo na mão com a etiqueta ao dependuro, fazendo uma cara que se assemelha ao cruzamento de um borrego com um asno, dizendo - "Desculpe o preço é o que está na etiqueta?!?".
 Como me preguntas isso? Então não sabes que pertencemos a uma irmandade secreta, com rituais de iniciação duríssimos, como por exemplo sermos pendurados de cabeça para baixo no topo do Everest enquanto realizamos a venda a um Sherpa ?!? Que só nós conhecemos o verdadeiro valor dos artigos e nunca, mas mesmo nunca, nem sequer sob ameça de morte, colocaríamos o preço verdadeiro para os clientes saberem?
 Queres saber o preço? Queres?! Anda trabalhar para o retalho! Até lá... Nickles.....

terça-feira, 1 de agosto de 2017

Les Misérables

 Boas,

 Chegou Agosto! O mês mais Português do ano! Onde milhares de pessoas voltam á sua pátria, depois de um ano de trabalho, para um merecido descanso......e depois vêm ás compras...
 Falo-vos de uma pequena fatia destes nossos compatriotas, cada vez mais pequena é certo e produto de um Portugal que já não existe, em que as diferenças do passado, deram azo a ouvirmos a expressão " Na França não é nada disto", vezes sem conta, ao que nós próprios replicamos com um secreto pensamento repetido á milésima ao género - " se lá é tão bom, o que fazes aqui?".
 Hoje em dia, a grande maioria dos emigrantes são pessoas que trabalham fora do país e vêm cá descansar nas férias. A minoria de que falo, vive noutro país e vêm cá passear-se no verão.
 São fáceis de identificar, pois tentam demonstrar um status que não têm, mas que são traídos pelos seus próprios tiques, de quem apenas luta no dia a dia num trabalho normal como tantos outros. 
 Sem ofensa e com a devida distância, são os Misérables de Vitor Hugo em busca do Eldorado, lutando para se ver livres de uma condição de dificuldades, como nos mostra a última versão cinematográfica datada de 2012. só que na vida real, quando voltam ás suas raízes, parecem esquece-las, olhando lá do alto do seu sotaque francófono.



 Isto é particularmente visível, quando, estando numa loja do seu próprio país falam entre si na língua do país que os acolheu - não estou a referir-me a crianças mas sim adultos - ignorando quem lhes pergunta em bom Português se precisa de ajuda e alheios ao facto de que, hoje em dia, falar Francês, Inglês, ou outra língua europeia, não é nada de incomum.
 Ainda no outro dia estive quinze minutos a gastar o meu Francês com uma família, para no final me agradecerem em Português perfeito deixando-me atrás do balcão com uma fuça á Mr Bean após ter feito asneira.
 A minha questão é simples. Amas o teu País, tanto ao ponto de grande parte da tua indumentária se reduzir a equipamentos da Selecção Nacional, idolatrando o simbolo da FPF como se fossem as 5 Quinas da Bandeira, mas quando estás finalmente de volta, por apenas 30 dias, para desfrutar deste paraíso... falas Francês. É a mesma coisa que dizeres que gostas de Whisky...e misturas-lhe Coca-Cola, tipo - "Uiiii ca bom que gastei 30 paus numa garrafa de Cardhu! Vai-me saber que nem gingas com esta Cola Zero".

terça-feira, 25 de julho de 2017

Weekend at Bernie's

 Boas,

 Tenho andado um pouco "morto" por estes lados, entre a sobrecarga de trabalho devido á época alta de verão, idas ao gim para recuperar a forma perdida, ( já lá iam quase nove anos que o tinha deixado), o tempo e inspiração têm sido pouco ou nenhum e também vir aqui aborrecer-vos, não é propriamente a minha ideia de um blog.
 Depois desta introdução/justificação, venho falar-vos do que realmente me trás cá hoje - os clientes defuntos.
 Calma... não estou a falar de alguém que tenha falecido, mas sim de algumas pessoas que parecem falecidas ou prestes a falecer quando entram numa loja.
 Sim, é que já vos falei aqui de N tipo de clientes, desde os mais parvos. aos mais alienígenas, mas dos que parecem falecidos...calma lá!
 Salvaguardo que não falo do tipico Zombie, do género White Walker, ou Resident Evil, que foram contagiados e deambulam agora num estado que nem é carne, nem é peixe.
 Falo-vos de alguém, que o aspecto aparenta ter sido ferrado pela a mosca Zsé-Zsé, ou então que levou um penso na fuça tão bem aplicado, que parece que o coma será a sua menor preocupação.



 Parecem-se muito com o Bernie de "Fim de semana com o morto", mortos mas com um look extremamente vivaço e responsivo.
 No filme Bernie é um ricaço que falece e proporciona a dois jovens o fim de semana das suas vidas. Na vida real, os Bernies, são geralmente senhores ou senhoras já com alguma idade, que vêm acompanhar os familiares nas compras e se fingem de falecidos, para que, quem os acompanha, não os chateie com perguntas do género, " Que tal? Fica-me bem?Gostas? Esta cor está bem? Usavas?Achas caro?Compro? Enfim, um sem numero de perguntas de resposta óbvia, mas que, de facto, após quatro horas de shopping e serem repetidas pela quinquagésima vez, dá a vontade de um tipo se fingir de morto. A mim, pelo menos, que sou um mero assistente de bancada, ás vezes também fico com sindrome de morte cerebral... mas esse já é assunto para outro post  

terça-feira, 18 de julho de 2017

Apollo 13

 Boas,

 Não tenho partilhado momentos convosco tanto como queria, mas o trabalho na época de verão, dá-me água pela barba, que se fosse salgada, até nem fazia mossa, pois significava que o mar estaria calmo. A questão é que a partir de dia um de Julho, surgiram os primeiros clientes que voltam a casa de férias, que normalmente se chamam Jean Michel, ou Nathalie, se bem que já começamos a ver alguns Fritz.
 Temos então que, estes turistas têm todos uma coisa em comum e não, não são labregos (subsistem alguns é certo, mas para encontrar um labrego não é preciso esperar pelas férias do verão, basta ir a um shopping ao Domingo), o que eles têm, todos em comum são duas coisas:
 -Em primeiro lugar são uma catrafiada deles para escolher e opinar sobre o artigo que apenas um deles vai comprar e que, depois, motivados pela primeira compra, desatam todos a comprar também.
 - Em segundo, falam, falam muito, pelos cotovelos e alto, muito alto, tão alto que por momentos pensei que me tinha entrado um fogueteiro do Sr de Matosinhos e disparado uma salva de morteiros na loja.


 Até aqui tudo bem, cansativo, mas lucrativo, por isso, tudo bem, o difícil, é quando temos uma missão para cumprir, para a qual temos tudo planejado, sabemos o que esperamos, mas o incrível e inesperado acontece.
 É como em Apollo 13, tudo para ser a cereja no topo do bolo de uma bem sucedida série de viagens e de repente, tau - "Houston, we have a problem!" - foi mesmo! Um dia normal, muito atarefado, com emigrantes e não só, boas vendas e de repente, alguém resolve fazer da tua loja um WC, literalmernte.
 Desta aposto que nem o Tom Hanks sabia como calcular o vector para sair dali com um sorriso nos lábios.
 Como é que é possível, que em pleno séc XXI, me entre um puto na loja para soltar o penedo? Fonix! Com dezassete mil casas de banho no shopping escolhe uma loja?!? O que é que tu fazes quando isso acontece? Tipo "Olhe precisa de papel?"Quer que ponha a musica mais baixa?""Não se importa que vá buscar um paralelo para lhe lavrar o marfim?".
 Não sei, não sei o que dizer ou que fazer! Vou falar com alguém da Nasa a ver se me ajuda!

segunda-feira, 10 de julho de 2017

The silence of the lambs

 Boas,

 No post de hoje, não vos falo de algo novo, de facto já falei antes sobre este assunto que tanto me incomoda neste post, que é o facto de não obter resposta quando falas para alguém, sendo totalmente ignorado.
 Só que face ao acréscimo de tráfego, característico desta altura do ano, este tipo de comportamento atingiu proporções criminosas, que fariam de Hannibal Lecter um menino de coro.


 No filme temos um psicopata que ajuda a lei a apanhar outro psicopata, enquanto isso arranja maneira de fugir. Tudo isto, dizendo tudo, sem nada dizer.
 Já na realidade temos psicopatas que entram em lojas remexem, tombam, estragam, desarrumam e não te respondem em situação alguma.
 Este fim de semana foi um prato cheio. Se as lojas fossem vinhas, diria que houve um ataque de míldio, porque não havia cabide que se aguentasse no sítio por mais de cinco minutos.
 Muitos de vocês podem pensar - "estás a ser ingrato! São eles que te colocam comida no prato" - não, não são, uma característica comum á sub-espécie humana "homus lecticae" - em Português "homem ninhadas" pois são ás resmas e não compram nada, é o facto de não acrescentarem valor, e sim destruirem valor, pois ocupam tempo do lojista, que lhes dedica minutos preciosos repetindo frases tipo-"posso ajudar";"em que posso ser útil" ou ainda "está á procura de algo em concreto?!"
 Sendo que a única resposta que o obtêm é um olhar ao estilo- " o que dizes?"," não percebo Aztecta".
 Por minha parte, gostava que por um momento, Hannibal fosse lojista, pois prato do dia não lhe faltava...

terça-feira, 4 de julho de 2017

Clifhanger

 Boas,

 Hoje não vos falo de retalho, falo-vos antes de algo que penso deve dar adrenalina. Ser político e tomar más decisões.
 Ultimamente o País tem sido fustigado por acontecimentos, uns mais trágicos do que outros, mas todos graves. 
 O ultimo episódio desta série é o roubo de material bélico Português, que terá como destino mais que provável, algumas organizações criminosas.
 Este triste episódio, onde á primeira vista fica manchado o exército Português, merece mais reflexão, pois como é do conhecimento público as forças armadas, sob pena de processos disciplinares internos e até processos civis/criminais, não podem fazer uso de força ou defender o posto que protegem. Isto porque alguns iluminados, com medo que o tacho não chegue para todos, foram retirando aos poucos o poder de resposta ás forças militares, como que Portugal fosse um Éden onde nada de mal acontece.
 É que, tal e qual como em Clifhanger, protagonizado pelo robusto Sly Stalone, em que uns tipos roubam uns milhões e existe um gajo que se pendura em penhascos que vai acabar por salvar o dia, parece que na política em Portugal se passa o mesmo. Uns tipos a roubar uns milhões, enquanto temos um exercito que qualquer dia se for preciso nos defende á pedrada pendurados em penhascos.



 A verdade, é que tal como as forças policiais, o exército faz parte da espinha dorsal de uma nação, serviu para a fazer e consolidar noutros tempos, para restaurar a democracia mais recentemente e no presente para nos lembrar de tudo isso e nos dizer - "Calma, se algo acontecer, podem contar connosco!" - podemos, como vimos no caso de Pedrógão Grande. Mas poderíamos muito mais se fossemos mais práticos e menos demagogos, sempre a querer por Portugal em bicos dos pés, antes de o calçar melhor.
 Que adianta ter saído do procedimento por défice excessivo se quatro polícias levam um coça de trinta marmanjos numa festa popular em Loures?
 Falta respeito, muito respeito e isso o Stalone tem que se farta...

segunda-feira, 3 de julho de 2017

The Hangover

 Boas,

 O post de hoje fala sobre o meu estado de espirito depois do primeiro fim de semana de saldos. Sim Os saldos começaram dia um de Julho e foi o fim do mundo em cuecas mais o diabo a quatro.
 Crianças a chorar, adultos a discutir, aves raras, reclamações, perguntas idiotas, expressões infelizes - you name it- os saldos trazem ao de cima uma parte do ser humano que está enterradinho no subconsciente e que despoleta como um fulminante, ao ponto de ensurdecer de tal forma que por mais alto, a única resposta que obtemos é o eco de uma parede humana.
 A ressaca de saldos, tal como no filme é todo um mundo novo em que acordamos e em que pensamos - "Uau! Eu trabalho aqui? Estava aqui ontem? Fui inoculado e sou o ultimo sobrevivente Homo Sapiens?


 Vocês podem estar a pensar que isto não é o mesmo que acordar em Bangkog com menos um dente, não de facto não é...mas não fica longe, fica até muito perto se pensarmos que abres a loja ás 10 da matina e és engolido por um casal, pelo mesmo casal que tinhas estado no dia anterior que parceiam uns Amish com medo da civilização ocidental, que agora te ameaçam de reclamação porque o calçado que tinham experimentado no dia anterior não tinha sido abrangido pelos descontos.
 Trabalhar num dia de saldos - mais concretamente um fim de semana de saldos - é o mesmo que te enfiarem nú e descalço em cima de sebo com dois Rotweillers famintos a cobiçarem-te as nádegas!
 Por isso o dia seguinte... o dia seguinte, se não te comeram o rabo... é uma nova realidade

terça-feira, 27 de junho de 2017

Backdraft

 Boas,

 O post de hoje salta um pouco do habitual deste blog, o mundo do retalho, para um mundo mais aberto, o dos incêncios de verão.
 É a minha forma de homenagear aqueles que o combatem e também de compartilhar o sentimento de revolta da podridão que envolve o combate ás chamas.
 Backdraft - um filme excelente - fala disso mesmo, da política por detrás do combate, de todos os interesses e lobbys que estão por detrás de uma chama e que, também já na vida real, fizeram alguns bombeiros passarem-se da marmita e começarem a atear em vez de apagar.




  Para mim - no fundo para qualquer Português com dois dedos de testa - para além da catástrofe em si, é uma vergonha que uma calamidade como a que se abateu sobre o País há cerca de duas semanas, tenha acontecido. 
 Fenómenos meteorológicos aparte, a desgraça adivinhava-se, e isto porquê? Por culpa de todos.
 Em primeiro lugar cada um de nós que tenha um terreno - se bem que é mais fácil e fica mais barato deixá-lo entregue á natureza - tem de cuidar dele, limpar e garantir que caso haja um "fenómeno natural" a retardação da chama é mais eficaz.
 Depois deverá haver um incentivo á reflorestação ordenada e multicultura, porque não é preciso ser um Engenheiro Florestal, para perceber que se a mancha verde possuir várias espécies de árvores a retardação é também mais eficaz.
 Poderia enumerar mais pontos, mas nenhum deles faz sentido, se a fiscalização não existir de uma forma incisiva eficaz e dura, muito dura!
 Sendo lógico que como o maior proprietário de terra em Portugal o Estado deva dar o exemplo primeiro, limpando e reflorestando as suas próprias matas, mas,  não é por não o fazer, que não vai andar em cima de quem não o faz também, senão o que acontece é isto, Republica das Bananas e tudo a arder.
 Em vez de se procurarem cabeças para cortar, deve-se antes usar as cabeças que temos para evitar um enorme Backdraft.

quinta-feira, 22 de junho de 2017

Ferris Buellers´s day off

 Boas,

 Já não publicava há uma semana! Isto porque o trabalho não me tem libertado o tempo que necessito para vos falar do que vai cá dentro e porque, quando estou de folga...estou de folga.
 O post de hoje fala-vos disto mesmo, de, tal qual como no filme - que lançou para o estrelato Mathew Broderick e inspirou muita malta nos anos oitenta em como curtir á grande - levar a vida e o tempo com que ela se gasta, na boa e tirar o que de positivo há, pois de chatices já estamos nós cheios.
 Este lema de vida , " Always look to the bright side of life" - brilhantemente espelhado na épica cena da crucificação de Monthy Python - tem sido o meu desde a minha infância e elevado á décima quinta potencia, desde que comecei a trabalhar nas vendas.
 Sabem, aquilo que oferecem á vida, a vida oferece-vos de volta, ás vezes a troca até pode parecer injusta no momento, mas uma coisa é certa, andarmos de cara fechada, ranzinzas, a reclamar por tudo e com todos por dá cá aquela palha, é meio caminho andado para que tudo piore e te pareca cada vez mais nego.




 Já trabalhei em algumas empresas, onde o stress é uma constante e a resposta tinha de aparecer antes da pergunta e pesando embora, a eficiência fosse um must, a verdade é que quando a descontração começou  ser engolida, a inovação, irreverência e ultimadamente a vontade de trabalhar e ser o melhor esfumou-se.
 Em retalho, tu não tens tempo para estar mal disposto, a tua cara é a tua ferramenta de trabalho mais preciosa e acredita, se estiveres com uma fuça, que mais parece um iaque a defender o seu território, nem o melhor preço do mercado te vai safar.
 Lidar com emoções é o nosso dia a dia e pensa, tens o poder de transformar o dia da pessoa, que estava prestes a detonar o cinto de explosivos, num simples "obrigado por tudo". É esta a tua maior realização, sim porque não estou a falar que te deixes calcar e que a hiena que está aos berros na loja te trate mal, naõ é isso! É mais vencer a ignorância com inteligência, de desarmares a besta com um sorriso, mostrando-lhe que realmente está a ser uma besta e cair em si do ridículo.
 Não é facil, mas pensem lá se não é muito melhor! Feliz dia!!!!

terça-feira, 13 de junho de 2017

They live!

 Boas,

 O post de hoje fala-vos de pessoas estranhas, clientes ou visitantes, que, por muito que os esforcemos, não conseguimos entender, quer o que dizem, ou o que pretendem.
 Já há algum tempo que tenho vindo a reparar que, com as excepções de aves raras que nos visitam em determinados dias e aos quais já dediquei posts aqui e também aqui, existem visitantes muitos estranhos, que nos entram em dias aleatórios, ao mesmo tempo e que, possuem um raciocínio muito próprio, mas que ao mesmo tempo não possuem mais traços comuns. Isto é, nacionalidade, estrato social, educação, cultura, nenhum destes denominadores é comum ao Homúnculo - é assim que eu os designo - pois são aparentemente humanos por fora, mas se virmos bem, são uma espécie Alienígena que se mistura entre nós e tenta controlar quem somos.
 Muito ao género do "Eles vivem" de John Carpenter um excelente filme para quem gosta do mix entre terror e Sci-fi, que, á parte de ter um Roddy Piper na sua única aparição digna de registo no grande ecrâ, tem acima de tudo um enredo estupendo que nos diz que existem uns seres que se misturam entre nós e que nos tentam controlar a mente através de mensagens subliminares e que só conseguimos ver através de uns óculos especiais.




 Ora, pessoalmente nunca tinha acreditado neste tipo de seres até vir trabalhar para o retalho, quando o primeiro me apareceu á frente, se bem que um pouco descontrolado, pois disse-me claramente - "Eu sou o cliente e você é o meu escravo!" - bem como já nesse dia eu não me deixei controlar e fui descoberto pela seita como um dos que viam quem eles realmente eram, passaram a visitar-me com alguma regularidade nos sítios onde tenho trabalhado.
 A última aparição deu-se no dia 10 de Junho deste corrente ano - Dia de Portugal. Neste dia já estás a contar que te apareçam uns espécimes raros, é feriado nacional, fim de semana, factores que conjugados, fazem normalmente sair da toca, predadores que se mantêm á cuca esperando a sua oportunidade.
 Mas desses comemos nós ao pequeno almoço, (geralmente ao domingo), portanto tratavam-se claramente de olutros seres. Eram para aí umas onze e meia da manhã quando me entra uma família pela loja dentro. Saudei-os, mas não obtive resposta devido ao histerismos colectivo que começou nas crianças e se alastrou á génese mais velha rapidamente. Nestes casos e devido também á experiencia com Aliens pergunto sempre "Português?", porque, quando são humanos geralmente responde algo como -"Non";"Nein";"No" , ou então no caso dos nosso primos mais próximos dizem "De Galícia"- no caso de uma raça Alienígena, a reação normal é o incrementar do histerismo e de um aparente desconhecimento de que existe um humano a tentar comunicar.
 Como normalmente insisto mais do que uma vez, o que acontece de seguida é que chega mais família o que transforma a loja numa espécie de ritual Africano onde só falta um grupo de Gospel a cantar "Shout!".
 A finalidade disto tudo é a liquefação cerebral do lojista e á qual só se consegue escapar com treino retalhista intenso, que te ensina a desligar o hipotálamo, blindando assim o cérebro das microondas emanadas pelo riso histérico e idiota proferido pela manadas de bestas. Espero que a descrição da cena vos sirva de alerta para melhor identificarem os bicho. Cuidado!Eles Vivem! 

quinta-feira, 8 de junho de 2017

Blackadder

 Boas!

 O post de hoje fala-vos daquele tipo de pessoa, neste caso cliente, que se julga muito inteligente, que gosta inclusive de mandar piadinhas durante a venda, de forma a mostrar a sua superioridade de intelecto, mas, que no fundo, não passa de uma cobra zarolha, com a acuidade intelectual de um pinheiro.
 Eles são os "víboras negras". Tal como no original "Blackadder" que nos entreteve ao longo de quatro temporadas, brilhantemente interpretado por Rowan Aktinson, Hugh Laurie e Tony Robinson, onde todos se achavam brilhantes, sendo na realidade calhaus com maior ou menor grau de dureza intelectual.



 Vejam, bem, eu não tenho nada contra as pessoas inteligentes, folgo muito com a sua existência e quantas mais pisarem este nosso pontinho azul no universo, melhor futuro teremos certamente.
 Já no que diz respeito aos espertos, já não comungo da mesma opinião. Isto por uma razão muito simples. Salvo excepções, uma pessoa inteligente, não precisa de anunciar que o é, ou fazer-se notar, ou pior ainda de se auto-elevar. Um esperto é aquele que, ou por um lado se acha inteligente ou por outro não tem noção da sua estupidez.
 Em retalho um lojista encontra por vezes spécimens deste género de hominídeos, (Homus Brutos), no seu dia-a-dia.
 No meu caso a última vez, foi em conjunto com uma colega, há bem pouco tempo. Abordei um casal de meia idade que olhavam curiosos para um determinado artigo - "Procuram algo específico?" - perguntei, após a saudação inicial, -"Está tudo controlado!" - responde-me o senhor. "OK" pensei eu afastando-me e acenando com a cabeça para baixo em tom de conformidade. 
 Mas a verdade é que passado cinco minutos, continuavam imóveis como se estivessem a admirar uma obra de arte na parede, ora, como não estamos no Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia e o meu mural não é o Guernica, fui obrigado a intervir novamente.
-"Estou a ver que tem dúvidas, qual o tamanho?"-"Nem maior nem mais pequeno!"-responde-me - "ahhh, claro, pois, que lindo vês?", pensava eu enquanto acenava com a cabeça ao mesmo tempo que esboçava um sorriso amarelo capaz de envergonhar um Tailandês.
 Como a resposta ideal para um idiota é o silêncio, o tamanho veio logo a seguir. "Deseja mais alguma coisa?"-"Para quê? Já tenho um para cada pé!"- pronto, temos comediante, só que o teatro fechou por falta de assistência... novo silêncio seguindo-se um esclarecedor "pois..." de minha parte- "Não, é só."-"muito obrigado!A minha colega tratará do pagamento." . Segue-se nova pérola, virando-se para ela - "Tenho de pagar?" ... bem, a minha colega, como sabia que não aceitamos coelho, broa, arroz ou tro tipo de bens em troca, pois vivemos numa sociedade de consumo lá respondeu - "Pois é, faz parte não é?"
 Mas porquê? Quem é que lhe disse, que aquelas saídas tinham piada e lhe davam um ar inteligente? O Baldrick? Não... Espera! "I have a cunning plan!!"


terça-feira, 6 de junho de 2017

Dances with Wolves

 Boas,

 O post de hoje fala-vos de encontrar um caminho para o sucesso, de uma realização pessoal, de perceber onde é o teu lugar.
 Não, não estou a falar do Tenente John Dunbar  e na sua viagem para o desconhecido para perceber que era com os índios que se sentia bem, no excelente Danças com os Lobos, um dos poucos filmes Western feitos já recentemente a que tiro o chapéu e o melhor protagonizado por Kevin Costner sendo que o outro já falei aqui e o terceiro é JFK, com o qual não irei fazer nenhum post, pois sinceramente, trabalhar em retalho, por muito fantástico que seja, não chega para fazer analogia com um filme onde, enfiar um balázio na tola de um presidente e gerar inúmeras teorias da conspiração é o enredo principal.
 Estou sim a falar da descoberta que cada um de nós faz no percurso da sua vida, até se encontrar confortável com quem é e com o que faz.


 No meu caso, após todos os meus sonhos de adolescente de ser músico, ou actor, terem esbarrado na dura realidade de um rendimento fixo ser mais urgente do que uma inspiração num papel transformada em melodia, surgiu sobre no fascínio de lidar com pessoas.
 Se reparem bem, todos os meus post são sobre pessoas. Embora o tema central seja o retalho e tudo o que de engraçado o rodeia, na verdade, todas as peripécias e narrativas, não teriam lugar, se não houvessem protagonistas, cromos, sem as quais a caderneta do lojista, estaria vazia.
 Eu até gosto mais de animais, é um facto, mas eles não compram, são os seus pais humanos que o fazem, por isso tenho de me rir só com eles.
 O post de hoje é curto, curtinho, como a vida, a qual deve ser bem saboreada porque de agridoce todos temos um pouco, mas é do salgado ou picante que gostamos mais.

domingo, 4 de junho de 2017

Untouchables

 Boas,

 O post de hoje fala-vos de uma coisa que para mim é intocável -um bom coração- ser o mais possível um tipo correcto, alguém em que se pode confiar e estabelecer uma ligação.
 Falo-vos disto porque, tal qual como no brilhante "Untouchables", ( o primeiro dos três únicos filmes do Kevin Costner que gosto), em que o carácter está acima de tudo, na vida de um lojista, que convive com ínumeras pessoas no seu dia a dia, ser genuinamente "bom" é uma mais valia.
 Senão vejamos, quantas vezes náo entramos todos nós numa loja e quando nos dirijimos ao caixa somos atendidos pela reencarnação de Frankenstein, ou ainda quando procuramos um artigo, ter a sensação que somos assombrado pelo Fantasma da Ópera?



 É que é disso que se fala aqui, da atitude que se tem perante a vida e á qual - não tenhamos dúvidas disso- a vida te responde na mesma moeda. 
 Já todos ouviram certamente falar na "Lei de Murphy" - quando uma coisa corre mal, então provavelmente mais coisas correrão mal - ora Murphy era certamente um tipo cheio de energia negativa e por isso, se via a vida negra, era normal que quanto mais olhasse, mais negra ficava.
 Quando estamos atrás de um balcão, não temos vida negra, ela será, para não ofender os mais conservadores, vá lá, azul celeste, podendo ter a certeza de que, quanto mais celeste fôr, mais cores se seguirão.
 E toda esta argumentação porquê? Porque, não raras as vezes, quem te entra pela loja dentro é o Murphy, sim aquele, resolveu comprar-te umas calças, ou uns sapatos, ou um frigorífico novo, porque, como se passou comigo há uns anos atrás, o que tinha lá em casa "-Avariou como tudo na minha vida" e tu tens de lhe mostrar que "-Já viu? Se o Frigorifico não tivesso ido para a companhia dos pés juntos, não teria a oportunidade de comprar esta pechinca a metade do preço"(...) "olhe lá se isto acontecia daqui a um mês...Já não se safava!".
 O tipo, que até tinha entrado com vontade de se tornar no Charles Manson de Ovar e assasinar meia loja, riu-se e disse, "Ó amigo tem razão já tava podre de velho, pior que a minha sogra"-"Sogras em promoção não temos!" -disse-lhe- "graças a Deus" - respondeu com uma risada - "quando precisar de um fogão novo já sei onde vir.
 Já sabe, nem que seja para uma conversa, que é assim que um tipo leva o dia...

quinta-feira, 1 de junho de 2017

Harry Potter

 Boas!

 Hoje é o dia mundial da Criança. É o meu dia! Confesso publicamente que tenho uma dentro de mim e que, mentalmente, em alguns casos, não terei evoluído para além dessa fase.
 Simplesmente adoro a sua maneira simples de pensar e tento aplicá-la o tanto quanto possível no dia a dia, pois o adulto tem o dom de complicar tudo e achar que tudo tem um segundo sentido, ou até de dar um sentido completamente diferente ao que na realidade se trata.
 Não vou falar de uma situação em concreto pois já dediquei um post á pequenada no passado -  este - o que quero sim é prestar-lhes a minha homenagem uma vez mais.
 Os petizes são mágicos, umas vezes porque fazem coisas impossíveis e outras, porque nos fazem desejar ser ilusionistas para os fazer desaparecer a eles ou a nós próprios. 
 Para mim, seria tudo mais fácil se o mundo fosse como o retratado em Harry Potter. 
 Um bando de putos que resolve os problemas com magia? O que melhor poderia ser? 
 Por exemplo - cliente ao berros na loja, tratando mal toda a gente - " Harry! podes chegar aqui se faz favor?" - Tau o homem passava a falar com voz de Rouxinol que assim podia berrar á vontade que era musica para os nossos ouvidos. Coisas desse género!


 Isto porque na mente de uma criança tudo é mais simples! Se não gostamos de algo, então o melhor é transformar esse algo numa coisa boa, ou pura e simplesmente fazer de conta que ele não existe.
 Nas birras não falo, isto porque, muito embora seja irritante aturar uma birra, ( elevem isso á quinta potência,  pois por vezes são N miúdos a fazer birra ao mesmo tempo numa loja, o que dá perfeitamente para liquefazer o cérebro a qualquer um), a verdade é que em adulto continuamos a fazê-las, só que as consequências podem ser bem piores do que uma simples palmada no rabo.
 E embora eu não deseje Dementors a ninguém, existem outros seres que habitam o universo de Harry Potter, que me dariam um jeitaço se pudessem trabalhar em part time na loja, ou ainda melhor se podesse evocar o meu Patronus quando um cliente mais difícil entrasse na loja.
 A verdade é só uma, o mundo é muito melhor, visto com olhos de criança. Por isso é que continuo a fazê-lo! Não percam a criança em voçês! Feliz dia!

terça-feira, 30 de maio de 2017

Wacky Races


 Boas

 Neste último fim de semana, a loja em que trabalho teve uma promoção muito agressiva, ao género de um black friday. Nestes dias existe um tipo de cliente muito especial - os Wacky Clients.
 Os "Clientes Chonés" - chamemos-lhe assim - encontram-se num estado larval durante o ano e ninfam em determinadas alturas, motivados por feromonas libertadas por promoções super agressivas.
 Tal como na BD que dá o título a este post e do qual Muttley e o seu sorrisinho irritante é o mais conhecido, correm em direção á meta, neste caso, loja, tentando chegar em primeiro, usando truques e intelecto.




 Ora, aí reside, o busílis da questão. Se considerarmos o intelecto numa escala para organismos unicelulares, então de acordo, pois tal qual uma Ameba, aproximam-se do alvo, neste caso do lojista e tentam envolvê-lo e absorvendo-o com os seus argumentos sem sentido.
 Lembro-me perfeitamente de, num destes eventos, ser chamado por uma senhora que desejava que o artigo que tinha elegido, tivesse o mesmo preço de outros incluídos na campanha.
 Desdobrei-me em explicações várias, de modo a que entendesse que uma campanha ou promoção é isso mesmo, alguns artigos estão a um preço mais baixo, enquanto outros permanecem iguais e que não é de todo possível incluir tudo, sendo que tentávamos que a escolha fosse o mais ambígua possível de forma a não defraudar expectativas.
 Continuava impávida e serena, no alto da sua intransigência, quando proferiu a seguinte pérola - "Se voce tivesse uma palavra para dizer agora qual seria?"- "Depilação " - pensei eu, ao verificar que já tinha visto relvados mais aparados na minha vida do que aquelas pernas. Passou-se assim...

domingo, 28 de maio de 2017

Excalibur

 Boas,

 O post de hoje, fala-vos não de uma espada perfeita que deu origem a uma lenda, com a qual tive o meu primeiro contacto neste filme dos anos oitenta, e para mim, ainda o melhor feito até agora sobre o rei Arthur, mas antes da compra perfeita, que dá origem a uma relação de continuidade e de fidelização.
 Todos nós, que trabalhamos em vendas, somos bombardeados anualmente com formações, ideias, métodos, para conseguir atingir um patamar superior em termos de serviço de atendimento ao cliente e onde o objectivo de tudo isto é fazer com que ele volte.
 Ora porquê tanto interesse em fazer crer ao cliente que o Excalibur dos artigos é este e não o outro na loja ao lado? Bem, porque simplesmente, um cliente fidelizado é a tua infantaria, quando resolveres defender a tua Avalon contra aqueles que a quiserem conquistar. Ele vai defender a tua marca, com mais acérrimo que tu mesmo, porque a prova está nele, no artigo que comprou,  a prova definitiva de que, de facto o poder de tirar a espada da pedra está em todos nós.



  
 Não quero dizer com isto, que quem é lojista, esteja sempre em guerra e tenha a mentalidade de um tipo do séc IX, até porque, aqui, não precisamos de Merlins para conquistar o cliente e não estamos também a falar de uma luta contra o mal propriamente dita.
 Estou antes a dizer que, se estabelecerem uma ligação com o cliente e este sentir, que tu és genuíno, então ganhas-te um aliado. 
 Nos clientes de palmo e meio é onde isto é mais visível, isto porque, tu não podes usar argumentos técnicos e realçar a qualidade do produto. O pequenote vai dizer ao papá e á mamã que gosta ou não, porque se sentiu bem contigo e ponto final.
 Assim e em jeito de rábula partilho um momento que tive na semana passada quando atendi uma menina de cinco anos e a sua mãe. - "Mamã, dá os pins ao senhor bonito!"-"Desculpe a minha filha que é sempre isto com os morenos". E eu, que de bonito terei sabe-se lá Deus o quê, fui para casa com o ego cheio...

sexta-feira, 26 de maio de 2017

The fly

 Boas,

 Hoje venho falar-vos de uma praga que assola tudo o quanto é estabelecimento comercial - O cliente Mosca.
 Os clientes tipo mosca são aqueles que esvoaçam pelos centros comerciais em busca sabe-se lá do quê, entrando e saindo das lojas uma vez atrás da outra, evitando abordagens dos lojistas.
 Eu já havia observado este comportamento em varios clientes, mas não ao ponto de os catalogar, de entender que fazem parte de uma sub-espécie de homínideos, cujo propósito é unica e exclusivamente ocupar-nos o tempo.
 Exactamente, ocupar, porque este tipo de cliente buscam algo que nem eles próprios sabem, talvez o artigo prefeito, a Excalibur dos artigos.



 O que fazem, (chagar-nos o cérebro), já sabemos, mas porque existem e como se desenvolvem foi algo que me assolou a mente até á pouco tempo, quendo revi este já classico filme de Sci-Fi - A Mosca.
 Naquele momento fez-se luz, os clientes moscas, são nada mais nada menos do que cientistas tentando deslocações espaço temporais de loja em loja. Senão vejamos o seguinte exemplo: Há cerca de um ano uma das minhas colegas desabafou comigo que tinha um cliente que entrava varias vezes na loja fazia as mesmas perguntas, experimentava o mesmo artigo, para depois sair.
 Achava ela tratar-se de um tipo de stalker, que entraria na loja com o propósito de a ver. Eu na altura não dei muita importância, até a dita personagem me calhar na rifa.
 Em primeiro lugar, tal qual todos os tipos de Dipteras (nome da familia das moscas), começou por esvoaçar de montra em montra, dando pequenos encontrões no vidro como se não percebece que estava ali aquela barreira a impedi-lo de entrar. Após algumas cabeçadas lá dá com a porta. Dirije-se imediatamente para um artigo que pede para experimentar - "Sente-se aqui e esteja á vontade!"- digo-lhe após o comprimentar, "Posso caminhar?"-"Claro", ora bem, digamos que, com o meu consentimento, não esperava que fosse fazer a maratona de S Silvestre dentro da loja e já depois dos primeiros três quilómetros fui obrigado a perguntar - "Então?Que tal? Gosta?"-"Ainda estou indeciso!". Como, "ainda estou indeciso"? estás á dez minutos a esvoaçar na loja com o artigo e não sabes se gostas ou não? 
 Naquele momento e já com alguma certeza que se tratava de uma Mosca Humana, imaginei um daqueles dispositivos que encontramos vulgarmente nos talhos ou cafés - aqueles que electrocutam os insectos- mas em tamanho de gente, a fazer o seu serviço, quando fizesse mais uma passagem á minha frente. Era lindo... mais uma passagem e bzzzt... mas não, saiu da loja esvoaçando até á próxima vitima. Eu, entrantanto, já comprei Baygon, Raid, Dum Dum e Ezalo.

terça-feira, 23 de maio de 2017

When Harry met Sally

 Boas,

 O post de hoje leva-nos ás origens, ao momento em que aquela faísca se acende no teu peito. Quando ficas com borboletas no estômago, quando não sabes o que dizer, como reagir, mas gostas, gostas de tudo e queres absorver cada gota e cada momento - o meu primeiro dia de trabalho nas vendas.
 Estávamos em 1998 e eu, já no segundo ano dos meus estudos, impulsionado pela minha namorada, hoje esposa, decidi arranjar um emprego.Já tinha trabalhado antes como estagiário num escritório, mas nada me tinha preparado para aquilo.
 Na altura sinceramente pensei no trabalho, como forma de começar a ganhar dinheiro, algo transitório, pois pretendia fazer carreira em televisão, no teatro, na música ou no cinema, áreas com as quais o curso se relacionava directamente e que sempre foram a minha paixão. Por isso, quando fui chamado para uma entrevista, numa grande superfície e me perguntaram se ficasse para onde gostava de ir, respondi - "Para a secção de queijos"- isto apenas porque adoro queijo e portanto, era a única coisa que me ligava aquele lugar.
 Fui parar á secção de informática, porque cresci junto com o boom dos computadores pessoais, ( o meu primeiro PC foi um Comodore 64) e tinha posto no currículo que percebia de informática.
 No dia 6 de Maio de 1998 entro ao serviço, estava nervoso, muito nervoso, tão desconfortável como se sentiu o Harry na famosa cena do restaurante do filme, mas ao mesmo tempo, maravilhado.


 O meu chefe apresentou-me a uma promotora, a D Clarinda, representante da marca DLI, que era como uma chave inglesa, se querias algo, ou saber como era, perguntavas á Clarinda. Mandou-me contar jogos e eu agradeci, (ao ponto de passados todos este anos me lembrar de códigos de barras completos), porque a ideia de atendimento ao público me aterrorizava.
 Não durou muito! Durante a tarde veio-me chamar -"Hugo, não podes ficar metido no armazém o dia todo! Há pessoas para atender!" - há pessoas para atender - foi como me dissesse " A sua consulta para o toque rectal é hoje!". Nem tive tempo para respirar, pois quando saio do armazém está um cliente á porta que me diz - "Venha cá que preciso de ajuda!"- exacto! Nem bom dia, boa tarde, ou, é desta secção...nada, nem aqueceu, foi " anda cá moço, que das tuas costas trato eu"! Sim das costas, porque o meu primeiro atendimento ao cliente foi na secção de móveis a alombar com um camiseiro até á caixa.
 Mas a verdade é que quando regresso da caixa e chego á minha secção era um tipo novo, a conversa circunstancial que mantive com o cliente do linear até á caixa e o seu "Obrigado pela a sua ajuda!", foram como que um baptismo, que me libertou do terror do atendimento, para passar a encarar cada abordagem como uma conversa e este tem sido mote até aos dias de hoje. Cada cliente é para mim como que um amigo que não se vê há muito tempo, portanto, na hora da abordagem a energia é canalizada nesse sentido, como se visses o teu amigo da primária pela primeira vez desde há dez anos e lhe dissesses " Anda cá sacana! Dá-me um abraço ganda porco!"- eu sei... os homens tratam-se mal uns aos outros, mas o grau de maledicência é equivalente ao afecto sentido, não se esqueçam. 
 É por isso, foi por este motivo, que, "Quando Hugo conheceu as Vendas", se tornou no filme mais longo da minha vida.

domingo, 21 de maio de 2017

Cable Guy

 Boas,

 O post de hoje fala-vos de alguém que todos que trabalham no atendimento ao público conhece muito bem - o amigo do cliente, mais conhecido por Melga.
 O melga, tal como no filme, é o emplastro que vem colado no cliente e que tem o dom de, sabe-se lá porque razão, influenciar a decisão de compra do cliente.
 Tenho a certeza absoluta que existe um propósito escondido nas atitudes do melga, sendo que esse propósito é o de boicotar a venda colocando entraves e objecções, que o próprio cliente, não se lembrou de colocar, igualando assim o nível de dificuldade da venda, por vezes, praticamente á capacidade de pilotar um veículo orbital.
 Para aqueles que pensam que o Melga é só um conhecido/amigo de circunstância, ou até alguém que o cliente arranjou para lhe fazer companhia, desengane-se. O melga é um meta morfo e pode assumir a forma de pai, mãe, namorado, marido,esposa ou até de toda uma família. Não é uma entidade, é uma condição.


 Bem, não estou com isto a dizer, que sempre que me entra um cliente acompanhado, quem o acompanha é o Jim Carrey e que nos vai fazer a vida negra...se bem que ás vezes falta pouco.
 Uma dessas vezes passou-se já no meu presente local de trabalho, logo na abertura da loja.
 Nesses dias, como tudo era novidade, ainda não estava familiarizado com o cliente tipo, por isso estava, digamos, daltónico das ideias.
 O batismo foi, como não podia deixar de ser á grande, com toda uma família de Melgas que vinham acompanhar a filha/neta/irmã.
 A cliente necessitava de um calçado para o trabalho, mais propriamente para ambiente hospitalar, o que reduz drásticamente as opções de compra, até mesmo por regras impostas.
 "Bem"-digo-lhe-"Nesse caso temos estes aqui, que é o que normalmente os clientes levam para esse tipo de serviço."-"Ui! Que coisa feia filha! pareces uma pata choca!"-diz-lhe de imediato a avó- "se engolisses uma enguia eléctrica é que era velha", pensei eu. "Acha avó?Mas são muito confortáveis","Ouve a tua avó"-diz-lha a mãe, "sim, ouve a velha, que a única coisa que opina com razão é na marca de todos os medicamentos da farmácia", pensei eu já com uma azia considerável.
 Nesta altura, antes que mais um membro desse uma opinião tão construtiva como as que tinham sido proferidas, resolvi intervir - "Bem, nada contra os gostos pessoais, mas a menina é que os vai usar, não é?"
 "-Sim de facto! E eu gosto!", "Gostas?!Tu é que sabes! Depois não me peças para cá voltar!"- responde-lhe o pai.
 Nesta altura penso, "Fonix, mas isto é um filme da Disney? Só falta o corcunda de Notredame", quer dizer, na realidade não faltava, porque o avô estava sentado lá fora com o neto mais novo.
 "-Não há qualquer tipo de problema, se mudar de ideias, pode trocar ou devolver!tudo tem uma solução!"-"Então assim fico mais descansada!Eu levo!Até porque gosto!"
 E pumba! Vendedor - um, Família Fezes Cerebrais - zero! Vai buscar!
  

quinta-feira, 18 de maio de 2017

Sex, Lies and videotape

 Boas,

 O post de hoje não fala de uma situação específica, mas sim, do dia a dia normal de quem trabalha na áre do retalho. 
 A analogia com o filme "Sex, Lies and Videotape" prende-se, não com o enredo textualmente, pois embora por vezes pareça, mas de facto, não fazemos terapia de casais nas lojas, mas sim porque o dia a dia de um lojista podia ter o título de "Vendas, Mentiras e Videovigilância".
 Isto porque, desde que abrimos o estabelecimento, respiramos números, somos engolidos por eles, quer de uma forma eufórica, quando estamos em alta, quer sob uma pressão enorme quando estamos em baixa.
 De facto, (e isto poderei deixar para um post posterior), não conhecer profissão mais parecida, com o futebol do que as vendas, onde a viagem de besta a bestial e vice-versa, se processa á velocidade da luz.
 Depois, porque de mentiras, sim, não sejamos hipócritas, mentiras, estão as vendas cheias, quer da parte de alguns que vendem, que se acham mais inteligentes do os que compram e por isso fazem uso da já famosa "publicidade enganosa", quer dos que compram, porque pensam por serem "clientes" têm o dom da omnipotência e que, portanto, a razão e verdade está sempre do lado deles.


 Existe ainda o facto de tudo isto, a vida que temos trabalhando, fazer parte de um gigante reality show pois somos gravados "vinte e quatro sobre vinte e quatro", como diriam os concorrentes desse famigerados programas e para além disso, somos também chamados a ser seguranças de um estabelecimento, respondendo na primeira linha a quem nos quer levar, aquilo que nos custa a vender.
 Num centro comercial, não é de todo estranho, ver um lojista a sair disparado da loja atrás de alguém, correndo o risco que lhe reorganizem a estrutura dentária, ou se o sangue ferver menos, atrás do segurança do shopping a pedir ajuda.
 Pois é, "Sexo Mentiras e Vídeo" foi um marco na história do cinema, porque abordou temas incómodos para a época, tendo motivado amplas discussões e uma "moda" em visitar psicanalistas por tudo e por nada.
 Já "Vendas, Mentiras e Videovigilância" é um filme intemporal, de uma realidade que nos toca a todos, isto porque ser lojistas não é para quem quer...

terça-feira, 16 de maio de 2017

Once upon a time in America

 Boas,

 O post de hoje fala-nos sobre aquela história que nos aconteceu e que contamos muitas vezes, porque nos marcou, porque é engraçada, porque é triste, porque dá raiva, ou pura e simplesmente, foi tão insólita, que parece até mentira.
 Todos nós temos uma, ás vezes várias, situações que nos ficam gravadas nas células cinzentas e que, por vezes, quando vivenciamos determinado momento, nos vêm á memória sob termo de comparação, do tipo, "Nãaaa, daquela vez é que foi...".
 Tal e qual como naquele que, para mim, é até á data, o melhor filme de gangsters de sempre - Once upon a time in America - com uma não menos brilhante banda sonora de Ennio Morricone, " Era uma vez no Retalho", podia ser muito bem uma sequela da obra, pois teria sem dúvida, bem mais do que as quatro horas de duração do filme de Sergio Leone.


  
 Ora bem esta história passou-se há uns anos valentes e contada, parece sem dúvida um filme, mas foi bem real.
 Nessa altura trabalhava numa grande superfície, na área de informática e modéstia á parte, éramos muito bons. Bons ao ponto, de sermos cobiçados por outras empresas, ou até, de fazermos trabalhos de manutenção inloco ou em domicílio, isto quando a secção Micro-clinica não passava de um sonho futuro.
 Num desses dias fui abordado por um indivíduo de look, que embora não fosse usual, não me fez levantar suspeitas sobre a sua idoneidade.
 "-Boa tarde! Disseram-me que aqui havia bons técnicos de informática e preciso de ajuda!" - "bom, desde que não seja assistir a filmes porno com a namorada ou fotos de igual teor com os mesmos protagonistas, como em situações anteriores em que, com os intervenientes á minha frente me ia dando um ataquinho, tudo bem"-pensei eu-"Força, o que se passa com a máquina?"
 "-Não sei!"- responde-me - Como?!Não sabe?Mas então? - "O que eu preciso, é que a veja e diga se tem algum problema". "-Deixe-me me ver se percebi, o portátil está a funcionar bem e o senhor quer que eu faça um check up porque?"-"Quero vendê-lo! E pretendo que o senhor me avalie o pc!"-" Mau, mas aqui diz "informática", ou diz "Avaliamos cenas"? 
 Naquele momento começo a ficar com o pé atrás e o tipo, por sua vez começa a dar sinais de nervosismo. Ligo o pc e vou diretamente ás informações do proprietário, e qual não é o meu espanto, a máquina está registada numa pessoa do sexo feminino e que por coincidência trabalha no mesmo sítio do meu pai.
 Uau, isto está aficar com contornos policiais e embora o tipo não seja nem um James Woods, nem um Robert De Niro, começa a ser intrigante.
 Invento uma desculpa para me ausentar e levar o pc para uma rápida"análise detalhada" e ligo com o meu pai. 
 Responde-me ele, que sim senhor a pessoa é colega e vai-lhe perguntar se tem o pc. A resposta surge uns segundos depois sob a forma de - "Ela achava que sim mas desapareceu!". 
 Pimba!Estou face a um gangster! Fraquinho, é verdade, pois se precisa de vir a um hipermercado avaliar o produto de um furto, a carreira no crime não dará certamente os frutos que rendeu aos quatro comparsas do filme, mas mesmo assim um gangster. Peço para chamarem a policia e o tipo, que pese embora fosse burro, não era desprovido da totalidade da matéria cinzenta, mete-se ao fresco.
 E foi isto, um verdadeiro filme de gangsters...e sem gajas, sim porque filmes destes sem gajas são raros, que o diga o De Niro!

quarta-feira, 10 de maio de 2017

Terminator

 Boas,

 O post de hoje, fala-vos, de um determinado tipo de cliente, não tão raro quanto isso e que, tem a especial capacidade de se comportar como um cyborg, bem ao estilo de um gélido Terminator e não, nunca tive a oportunidade de conhecer o Arnold.
 Estes clientes têm, na minha perspectiva, graves problemas de comunicação, sendo por isso necessário a presença de um/a intérprete de forma a que o lojista consiga estabelecer um diálogo e compreenda as suas necessidades.




 Há já algum tempo, trabalhava eu para os lados de Ovar, quando, aí por volta das 21 horas, entra um casal normal, (achava eu), na loja. O dia tinha sido bem parado, por isso, qualquer alminha que nos entrasse porta dentro, era tratado como se de sua Santidade o Papa se tratasse.
 Ora estava eu no gabinete, quando a funcionária me entra esbaforidamente pedindo a minha ajuda - " O que se passa? Alguma reclamação?"-pergunto-lhe."-Não, não! Preciso de ajuda para os atender porque já me está a dar uma coisinha má!", "-Mas quê, são de Arouca?"- a razão da minha pergunta prendia-se do facto de os clientes cromos que atendíamos, serem geralmente daqueles lados.
"-Olha, eu nem sei de onde são, só sei que estou há vinte minutos a tentar explicar as diferenças de uma máquina de lavar roupa e nepia..."
 Aproximo-me, tentando medir ao de longe o grau de simplicidade a utilizar - "Boa noite!-"Boa noite! É você que vai fazer entender ao calhau do meu marido o porquê das diferenças de preço?"- fiquei um pouco aturdido com a interpelação, pois quando o intérprete não está disposto a ajudar, então o caso é mais grave.
 "-Bem, certamente vou tentar!"- respondi com um ar brincalhão. "-Então qual é a dúvida do meu caro amigo?"-"-Eu?Eu não tenho dúvida nenhuma! Eu quero é que você me diga porque é que eu tenho de pagar mais por esta que a sua colega me quer vender!"
 ...Quando te dizem que não há dúvidas mas que querem que tu expliques uma coisa, das duas uma, ou tens a capacidade cognitiva de uma alga, ou então, gostas que os outros pensem que sofreste uma embolia cerebral.
 "-Sabe, tem tudo a ver com quantidade de roupa que se pode lavar. Uma consegue mais do que a outra!"-"E por isso mais 150€?!? Lava-se mais vezes!"- responde-me- "Pois, mas assim, vai gastar mais água e electricidade tornando tudo mais caro!"
  "-Bem, deixe-me pensar! Eu volto já!" - Ora bem, não é que isto fosse um "I'll be back!" Dito em tom robótico, mas deixou-me a pensar no porquê da temporização. Seria um defeito no processador? Demasiada informação? Eu gostava de saber responder, mas a verdade é que provavelmente o tempo de permanência no nosso ano tinha-se esgotado e o cyborg voltou para o futuro...

domingo, 7 de maio de 2017

Unforgiven

 Boas,

 Sabem quando têm aquele tipo de sensação do género, "não estou em mim", ou ainda como se estivesses a falar com alguém e aquilo não batesse nada certo? Como se por muito que te fizesse entender o feedback era zero?
 Pois é, o post de hoje fala disso mesmo, de não comunicações que te levam a um estado de nervos tal, que,se estivéssemos no século XIX no oeste americano, provavelmente haveria um ajuste de contas ao estilo de Clint Eastwood em Unforgiven. É que no fundo no fundo, há uma besta maléfica em todos nós, só que graças a algo que temos chamado cérebro, a mesma permanece bem enterrada só espreitando, (em alguns casos, como o do filme com uma boa dose de whisky do Tennessee).
 Ora em Retalho, essa besta aparece muito sob a forma de cliente, por isso, o lojista tem de dominar a arte Zen de adormecimento mental, de forma a que, o que nos gargarejam seja entendido como -" Ai que lindo!!!! Gosto de tudo, tudo, tudo!"- Ok, vá, não de uma forma tão aparvalhada, mas entendem o que eu quero dizer.
 Muito raramente, o lojista, não consegue dominar na perfeição a arte e aí, bem aí o Clint vem fazer uma visita.



 O caso que vos relato, passou-se com um colega meu, há uns anos valentes, na minha presença, no saloon do retalho - vulgo Serviço Pós Venda.
 Como já vos contei num post anterior, nas grandes superfícies é-se muitas vezes chamado a substituir os colegas do SPV por diversos motivos, sendo que por vezes devido ao fluxo intenso de clientes eram necessárias duas pessoas. Num desses dias estando eu e o meu colega a atender, um senhor aproxima-se do balcão e chama o meu colega "-Ó pssst! Chegue aqui!"- o meu colega, como adivinhando o que se aproximava comenta - "Não queres ir lá?"-"Desculpa, mas já tive a minha dose de cefaleia hoje" - disse-lhe em tom de brincadeira.
 Após um diálogo inicial de que não me apercebi pois estava com outro assunto em mãos, surge o primeiro disparo no saloon - "Quero falar com o gerente!" - arma muito utilizada, pois não são permitidos Colts Single action no SPV.
 O meu colega continuava muito calmo dizendo-lhe que não havia qualquer problema em chamar a gerência, mas que a resposta seria a mesma, pois o que o senhor pedia, não era possível, (tratava-se de devolução de um filme aberto, que por direitos de autor não é possível efectuar).
 Ao ouvir isso o cliente dispara - "Você é uma vergonha de funcionário e está aqui, está a levar na tromba!" - bem, quando não és claramente um Gene Hackman e te armas em xerife, pode ser que o tiro te saia pela culatra e que os dentes comecem a ser alvo de cobiça do punho do outro interveniente.
 "-Está a ver isto?" - diz-lhe o meu colega, apontando para a gravata e crachá enquanto os tirava rapidamente, "-Quando saírem já não represento a loja e estou lá fora á sua espera no parque de estacionamento!".
 Naquele momento era capaz de jurar que me cheirou mal, cheiro esse, provavelmente provindo da roupa interior do cliente, que claramente não estava á espera do duelo para que acabava de ser desafiado.
 O meu colega já ia longe em direcção á saída, por isso interpelei o cliente - "Está tudo bem?Posso ajudar em algo mais?","Nnnão"-gagueja- "deixe estar que eu até gosto de ficção científica, eu fico com o filme"- responde-me dirigindo-se para a porta oposta á do meu colega.
 Pois é amigo, metes-te com o Clint, ele não perdoa...

quinta-feira, 4 de maio de 2017

GranPa

 Boas,

 O post de hoje é uma homenagem. Um pequeno tributo a um grande homem, que, para mim, foi até hoje o melhor coração que já conheci e um exemplo a seguir - O meu Avô.
 Não vou estar aqui com melancolias porque tristezas não pagam dívidas e o meu avô era um homem pratico e decidido, se era pra fazer, fazia-se. Muito ao estilo de um De Niro em Dirty Granpa - loucuras á parte, claro - sem se achar velho e sempre pronto a ajudar.


 Tinha sempre uma palavra amiga, um conselho e muitas vezes um raspanete se as coisas não fossem á sua maneira. Era muito assim do estilo, "What you see, is what you get.", sem surpresas.
 Divertido, gostava de assobiar e cantarolar umas cantigas que só ele conhecia e não tão poucas vezes assim, inventava umas histórias divertidas, ( eu durante muito tempo pensei que Cascos de Rolha era uma terra a sério).
 Hoje deixou-me, a mim e a todos nós. Está certamente chateado, porque não planeou isto, ele que era um Homem que detestava algo que fosse fora da rotina e que organizava tudo com bastante tempo de distância.
 Eu, por minha parte também estou uma pilha, porque não me ligas-te e as quartas-feiras nunca mais serão as mesmas.
 Amo-te Vôvô!

terça-feira, 2 de maio de 2017

Che - A revolutionary life

 Boas,

 Seguindo a sugestão de uma amiga, o post de hoje fala de um dia que representa uma conquista da sociedade moderna, mas que do ponto de vista de alguém que trabalha em retalho é vivido de uma forma completamente diferente.
 Falo-vos do 1º de Maio. 
 Não é que Che Guevarra tivesse algo a ver com a implantação do dia, ele tinha mais queda para golpes militares na América do Sul, tal como podemos ver no filme, brilhantemente interpretado por Benicio Del Toro. Só que, se um tipo fala em revoluções o Che está lá! O 1º de Maio foi de facto obra de um cérebro colectivo de trabalhadores que, queriam entre outras coisas, um dia só seu. 
 Ora bem, tal qual como Che falhou em implantar o Comunismo em toda a América Latina os trabalhadores, falharam em conseguir um dia só para si. Quero com isto dizer, que embora tenham conseguido jornadas de trabalho de oito horas, ordenados mínimos, folgas etc, falhou no mais importante, na transformação de mentalidades.
 Portanto, com isto em mente, o que fazer, quando não trabalho porque é feriado? Descansar? Passear?Um piquenique? Um filme?TV?Dolce fare niente? Não, vou ao shopping.


 Se o Che trabalhasse em retalho, no 1º de Maio viria trabalhar provavelmente, munido de uma AK47 e carregador duplo, pois se aos Domingos há tipos estranhos ás compras, neste dia especificamente, ultrapassam os limites, pois fazem lembrar o companheiro Fidel, mas não nos seus dias de luta e sim nos discursos infindáveis do fim da sua vida activa.
 Ainda ontem tive uma vontade imensa de mandar umas granadas para o campo de batalha quando três famílias tomaram de assalto a loja. 
 Uma das famílias, de origem Espanhola, tinha um filhote com o vocabulário de uma Catatua no cio, repetindo incessantemente -"NO!NO!NO!"- , mesmo depois de sair da loja ainda o podia ouvir no corredor, isto, não sem antes o pai se virar para a mãe e lhe dizer -"Mas porque sigues perguntándole sí le gusta?La única cosa que te contesta és "no"!"Que hostia de gilipollas eres?!"- bem, não sei se a mãe era uma idiota imbecil como o pai acabava de insinuar, mas que o filho tinha meses a menos no ano...lá isso tinha. 
 As outras duas famílias, entretanto digladiavam-se para ver quem conseguiria experimentar mais modelos, tombando dois, sempre que queriam experimentar mais um. 
 Respirei fundo e olhei fixamente para um dos miúdos que atirava dois pares ao ar, o qual olhando para mim sentou-se e ficou mudo. Tive nesse momento a certeza que a AK47 tinha disparado, porque se o petiz tinha fralda, certamente fez uso dela naquele instante.
 Diz-me um familiar - "Sabe como são as crianças não é?" - eu pensei comigo, "sim sei, mas isto não são crianças, são guerrilheiros do Hezbollah a lutar pela faixa de Gaza e nós não estamos em Israel".
 "-Sim, eu sei..." - respondi-lhe - "Olhe que há dias piores!"- "Ah sim?Piores"Che ondes andas meu?