Boas,
Um dos meus herois de juventude, foi sem dúvida Indiana Jones. O Dr Jones tinha, (e continua a ter), o dom de combinar num personagem tudo o que eu gosto - Humor, aventura e coragem, com um toque de arqueologia e História.
Ora, estava eu bem longe de pensar, que ao ingressar no mundo do retalho iria, ser uma espécie de Indy, que, pese embora nunca tenha visto a Arca da Aliança, continue sem duvida, á procura do Santo Graal, quer isto dizer, do cliente imaculado que quando entrar pela porta dentro, nos purifique e traga o sucesso eterno da vendas.
É bem verdade que não preciso de chicote ou de um Smith and Wesson para ultrapassar vendas difíceis, mas estaria a mentir, se não dissesse que a vontade de o ter já existiu múltiplas vezes ...
...Uma das vezes que me apeteceu puxar pelo chicote foi há uns tempos quando atendia mãe e filha.
As senhoras, uma a passar dos setenta e a outra a chegar aos cinquentas, precisavam de ajuda pois a mais velha necessitava de um calçado confortável e o podologista tinha-lhe dito que na minha loja seria uma boa opção para procurar.
Uma vez escolhidos os modelos e cores passamos á fase de experimentar. A senhora muito educadamente me disse que "-Olhe podem até ser confortáveis, mas são mais feios que o Deus me Livre!". Ora, não sendo o "Deus me Livre" nenhuma personagem maléfica do universo Indiana Jones, calculei que fosse alguém das relações pessoais da senhora que tivesse caído de cara na altura do parto. Portanto, como sou um cavalheiro, anuí simpaticamente dizendo - "- Sabe como é, gostos não se discutem!".
A filha, que agora acho que devia ser a quem a velhota se referia, pois já vi aos microscópio organismos uni-celulares com mais sex-appeal que a senhora, olhava de lado desdenhando em alguma lingua que, como infelizmente não tinha o Mr Brody ou até o próprio Indy para me traduzir, fiquei em branco sobre o seu significado. Mas havia algo que eu percebia perfeitamente - a má vontade em ali estar, isto porque passado uma primeira fase em que tudo o que a senhora experimentava ficava bem e era "mesmo isso", passou para o contrario onde tudo lhe fazia espécie e as cores não encaixavam.
Eu por minha parte tentava agradar a Gregos e Troianos, sabendo de antemão que os últimos perderam a guerra. Ás tantas, quando pela enésima vez diz à mãe que não lhe ficam nada bem, a mesma, farta já do filme, remata "-Eu não tenho culpa de o Dr me ter dito para vir aqui e tu só gostares daqueles sapatos com tacão de vidro!".
Ora eu, nos meus anitos de vendas, nunca tinha ouvido de uma forma tão subtil alguem dizer a outra que basicamente "és uma besta sem coração, com o sentido estético de uma quenga".
Feliz por aquele estalo de luva branca, decidi dar a minha opinião dizendo o modelo e cor que mais lhe favorecia, agradecendo mentalmente á senhora por ter evitado que o Indiana Jones em mim fosse obrigado a usar o chicote.