terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Homo Dominica

Boas,

 O tópico de hoje, fala sobre essa espécie hibernante, da qual só conseguimos vislumbre uma vez por semana - Os Domingueiros.
 Quem trabalha em comercio sabe que Domingo é um dia especial, onde, conjuntamente com os clientes que precisam de algo, surgem então os Homo Dominica, que têm como função primordial, tornar um dia de vendas que seria igual a tantos outros em uma nova Odisseia de Homero.
 Há muito que me interrogo de onde são, o que são e como subsistem numa sociedade cada vez mais plural, onde as singularidades tendem a ser absorvidas pelo banal.
 Na minha busca pela verdade, e como já trabalhei em diferentes localidades e formatos de comércio, posso, em prol da verdade garantir que, em primeiro lugar, são nómadas.
 Porquê? Porque sempre que me desloco para o trabalho ao Domingo, eles já estão na estrada, fazendo-me então supôr que o movimento migratório, casa-shopping é algo que lhes está intrínseco de semana para semana e consequentemente, fazendo-me a mim concentrar em 15  minutos de trajeto, todo um dicionário de vernáculo digno de 90 minutos de um jogo da bola do Gulpilhares X Passarinhos da Ribeira.
 Em segundo lugar, que existem sub-variações autóctones conforme o sítio em que se trabalha. É fácil de comprovar analisando a indumentária, que varia entre o estilo passagem de ano 1975 - 76 e um casual fato de treino made in feirex, assim como pelo dialecto utilizado, mais ou menos perceptível.
Chegado ao trabalho e depois de estacionar, constato que apesar de faltarem 30 minutos para o Shopping abrir, já existe uma multidão de espécimes tentando entrar.


 Abertas as portas, depois de algumas cabeçadas na montra, começam a entrar com um ar guloso de quem saboreia morangos com chantili.
 Surge a primeira abordagem - "Bom dia!  Posso ajudar?" - "Vim ver" - responde - "Veio ver o quê?" penso eu. O shopping? As outras pessoas? A loja? O que está dentro da loja? Continuo - "Mas procura alguma coisa especifica?"-" Não, não! Estou só a ver!" - responde enquanto continua a remexer em todos os artigos formando quase uma bola.
 Fazendo uso de toda a tua experiencia em costumer servicing, respiras, porque afinal ainda só passaram 10 minutos que o shopping abriu e usas a visão periférica na esperança que te entre um outro cliente que te possa afastar dali.
 Já safo, depois de já estares noutra chama-te - "Psst, senhor, pode-me chegar aquele que está ali em baixo?" - "Claro"- respondo enquanto lhe entrego o artigo - "Posso ser útil em mais alguma coisa?" - "Não!" responde entregando-me o artigo de volta - "Era só para ver!" - E é isto!

domingo, 26 de fevereiro de 2017

Yes! No! I know!

 Boas!
 Desta vez falo-vos de algo que nos toca a todos. A personagem que, de vez em quando, encarnamos de um ser omnisciente, que tudo sabe e que nasceu ensinado.
 Aquele momento em que nos assoberba uma certa falta de humildade e teimosia, que nos diz, " não precisas de ajuda, não peças, tu sabes!".
 Em comércio isso é mato! Entram-nos pelo estabelecimento a dentro, em fluxo constante, espécimes desta linha paralela de hominídeos omniscientes, que se definem em uma frase - Sim! Não! Eu Sei!


O porquê desta frase síntese, tem a ver com a forma como nos respondem a perguntas abertas que fazemos, querendo nessa altura passar por vastos conhecedores do universo da marca que representamos e que nós ali somos uns empatas, uns chatos e que devíamos era estar caladinhos e desatar a arrumar o producto.
 Começa sempre com algo do tipo - "Está familiarizado com a nossa marca?" - "Sim!" - "Precisa de ajuda?" - "Não!" - Tau! Já foste! Pontapé nos rins do Sr Platão do Retalho -  "Esteja á vontade então..." - respondemos cabisbaixos, dominados por aquele ser sapiente.
 Esta, é a primeira parte, mas ao fim de dez minutos em que olha fixamente sem saber o que fazer, atiramos a bóia - "Se calhar o melhor é tentar este!" - "Eu sei" - resposta lacónica - que te deixa com um ar de "És mesmo imbecil, para que me ajudas-te?", "Fica mas é aí quietinho e não faças figurinhas em tentar explicar-me o óbvio".
E eu fico, quieto, na companhia da minha ignorância, que essa ao menos é certa, não é Sócrates?

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

The Clone Wars

 Sou um super fã de Star Wars, e um destes dias, pensei estar envolvido em mais uma sequela, ou até mesmo num spin-off da saga.
 Mais uma vez, no trabalho, estava com um casal, (daqueles clientes com quem gostamos de falar), simpáticos, afáveis, que sabem o que querem e com um gosto em comum - a saga Star Wars.
 So far, so good. Um pouco indecisos na hora de decidir o que levar, mas até aqui tudo OK. No fnal com as escolhas já feitas dirigimo-nos ao balcão para efectuar o pagamento.
 Enquanto fazia o scan dos artigos, continuamos a nossa conversa sobre o universo Star Wars, de quem gostávamos mais, do perfeito vilão, das falhas, do que vinha aí, enfim conversa de nerds.

 Chega a hora do pagamento e (não tão raro quanto isso), "não autorizado", diz a máquina. Como, por vezes existem falhas de comunicação, não valorizei e voltei a tentar, "não autorizado" diz novamente.
 Digo ao casal o que se passa e obtenho a resposta - "Clonaram-me o cartão!!"
 Devido ao teor da conversa que estávamos a ter, pensei tratar-se de um desabafo em tom de brincadeira para tornar a situação menos constrangedora e que um normal - "desculpe, tente antes este" - iria sair dali.
 Mas não, repetiu com um par de olhos a saltar das órbitas - "Clonaram! Clonaram!". A mim, atordoado, ocorreu-me - "Aqui?" - "Não, não, na loja anterior!" "Estás a ver?" - respondeu virada para o marido que a olhava com um ar de "Se não tivesses estroncado o saldo todo provavelmente não o tinham "clonado"".
 Por fim, embaraçado com a incrivel justificação da companheira, pagou a dinheiro e disse - "Vamos, que por hoje já chega".
 Que a força esteja com ele!

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Stupidification Portal

 Boas,

 A história de hoje reflete algo, que, julgo  passar-se, quando algumas pessoas passam á porta de um estabelecimento comercial.
 É uma espécie de Vortex, um campo de forças, que transporta um cliente para outra dimensão, na qual o seu coeficiente cognitivo fica equiparado ao de uma ameba.


 Não sei se já vos aconteceu, mas sabem aquela sensação de quando mais explicas menos te percebem?
 Acho que pode muito bem ser um acontecimento...quiçá...para físico, paranormal?
 Ainda esta semana tive perante mim um exemplo vivo deste estranho acontecimento.
 Um casal olhava para a montra e publicidade da loja...e motivados, (pensei eu estupidamente, devido a uma vitrine apelativa e bom marketing), entraram da loja.
 Na altura não valorizei muito o facto das suas expressões modificarem quando entraram - tinham um ar de "Uauuu que liiinnndoooo!", mas quando os abordei percebi imediatamente pelas perguntas.
- "Desculpe só tem isto?" - "Como?1?" pensei comigo. Tive vontade de responder, "Sim, sim, temos, mas não pomos cá fora porque somos acéfalos", mas respondi com um cordial,-"De momento sim, o que procura?".
 Quando pensei que nada mais havia a acrescentar a este momento eis que - "O preço é o que está marcado?" - mais uma vez assolou-me o pensamento uma resposta do tipo, "Não, é obvio que não é esse! O Verdadeiro só nós sabemos e partilhamos com clientes "especiais"". No entanto a resposta foi mais do tipo - "Sim; está correto! Temos é a promoção que está assinalada na montra, que poderá usufruir!" - o pá o que é que tu foste dizer - "Promoção?!?!" - respondeu com um ar que faria Trump parecer Einstein - "Sim, esta" apontei eu para o cartaz com 1.80m de diâmetro que tínhamos colocado.
 Nesse momento assolou-me uma dúvida..."O que os fez entrar?". Se não foi a campanha, os preços, o producto e nem a curiosidade (já conheciam). O que mudou? O que transformou um casal perfeitamente normal em duas espécies daqueles carrinhos a pilhas que se compram nas feiras que ao bater num obstáculo voltam para trás e andam em círculos sem saber muito bem para onde vão?
 Não sei... e a julgar pela repetição do fenómeno, só com equipamento muito especializado o vou descobrir!

domingo, 19 de fevereiro de 2017

First Blood

Um título sugestivo para o primeiro post.
 Quem me conhece, sabe que sou um tipo reservado para estranhos e extrovertido, (a descrição mais certa será apalhaçado), para quem me é proximo.
 Por isso escrever sobre mim, os meus gostos, dar a minha opinião publicamente, sem saber quem do lado de lá estará a ler, é sem dúvida um passo em frente. Até certo ponto uma catárse.
 A ideia surgiu há muito, pois com o cérebro constatemente a brotar ideias, ( a maior parte das vezes idiotices, mas que irei partilhar uma após a outra), surge por fim um dia em que decidimos que hoje é o dia.
 O impulso foi-me dado por uma colega de trabalho, (obrigado Irene), com quem trocava ideias há dias por telefone sobre gostos e projectos - daquelas conversas do tipo " se te saísse o EuroMilhões, que farias?"- que me disse "porque não crias um blog e partilhas isso?"
 Lá está, ou melhor, cá está, aqui estou, a partilhar as primeiras linhas sobre mim.
 A ideia central do blog é divertir com vivências do dia a dia de alguém que trabalha no comércio, com pessoas e que por vezes se depara com situações tão caricatas e com personagens tão... surreais, que se a teoria de Einstein tivesse aplicação naquele momento, saltava de dimensão.

 E acima de tudo, porque gosto, gosto do que faço. E ninguém é feliz se não viver do que gosta.
 "quando se encontra sem procurar é porque anteriormente se procurou muito sem encontrar"
 See you soon!