terça-feira, 30 de maio de 2017

Wacky Races


 Boas

 Neste último fim de semana, a loja em que trabalho teve uma promoção muito agressiva, ao género de um black friday. Nestes dias existe um tipo de cliente muito especial - os Wacky Clients.
 Os "Clientes Chonés" - chamemos-lhe assim - encontram-se num estado larval durante o ano e ninfam em determinadas alturas, motivados por feromonas libertadas por promoções super agressivas.
 Tal como na BD que dá o título a este post e do qual Muttley e o seu sorrisinho irritante é o mais conhecido, correm em direção á meta, neste caso, loja, tentando chegar em primeiro, usando truques e intelecto.




 Ora, aí reside, o busílis da questão. Se considerarmos o intelecto numa escala para organismos unicelulares, então de acordo, pois tal qual uma Ameba, aproximam-se do alvo, neste caso do lojista e tentam envolvê-lo e absorvendo-o com os seus argumentos sem sentido.
 Lembro-me perfeitamente de, num destes eventos, ser chamado por uma senhora que desejava que o artigo que tinha elegido, tivesse o mesmo preço de outros incluídos na campanha.
 Desdobrei-me em explicações várias, de modo a que entendesse que uma campanha ou promoção é isso mesmo, alguns artigos estão a um preço mais baixo, enquanto outros permanecem iguais e que não é de todo possível incluir tudo, sendo que tentávamos que a escolha fosse o mais ambígua possível de forma a não defraudar expectativas.
 Continuava impávida e serena, no alto da sua intransigência, quando proferiu a seguinte pérola - "Se voce tivesse uma palavra para dizer agora qual seria?"- "Depilação " - pensei eu, ao verificar que já tinha visto relvados mais aparados na minha vida do que aquelas pernas. Passou-se assim...

domingo, 28 de maio de 2017

Excalibur

 Boas,

 O post de hoje, fala-vos não de uma espada perfeita que deu origem a uma lenda, com a qual tive o meu primeiro contacto neste filme dos anos oitenta, e para mim, ainda o melhor feito até agora sobre o rei Arthur, mas antes da compra perfeita, que dá origem a uma relação de continuidade e de fidelização.
 Todos nós, que trabalhamos em vendas, somos bombardeados anualmente com formações, ideias, métodos, para conseguir atingir um patamar superior em termos de serviço de atendimento ao cliente e onde o objectivo de tudo isto é fazer com que ele volte.
 Ora porquê tanto interesse em fazer crer ao cliente que o Excalibur dos artigos é este e não o outro na loja ao lado? Bem, porque simplesmente, um cliente fidelizado é a tua infantaria, quando resolveres defender a tua Avalon contra aqueles que a quiserem conquistar. Ele vai defender a tua marca, com mais acérrimo que tu mesmo, porque a prova está nele, no artigo que comprou,  a prova definitiva de que, de facto o poder de tirar a espada da pedra está em todos nós.



  
 Não quero dizer com isto, que quem é lojista, esteja sempre em guerra e tenha a mentalidade de um tipo do séc IX, até porque, aqui, não precisamos de Merlins para conquistar o cliente e não estamos também a falar de uma luta contra o mal propriamente dita.
 Estou antes a dizer que, se estabelecerem uma ligação com o cliente e este sentir, que tu és genuíno, então ganhas-te um aliado. 
 Nos clientes de palmo e meio é onde isto é mais visível, isto porque, tu não podes usar argumentos técnicos e realçar a qualidade do produto. O pequenote vai dizer ao papá e á mamã que gosta ou não, porque se sentiu bem contigo e ponto final.
 Assim e em jeito de rábula partilho um momento que tive na semana passada quando atendi uma menina de cinco anos e a sua mãe. - "Mamã, dá os pins ao senhor bonito!"-"Desculpe a minha filha que é sempre isto com os morenos". E eu, que de bonito terei sabe-se lá Deus o quê, fui para casa com o ego cheio...

sexta-feira, 26 de maio de 2017

The fly

 Boas,

 Hoje venho falar-vos de uma praga que assola tudo o quanto é estabelecimento comercial - O cliente Mosca.
 Os clientes tipo mosca são aqueles que esvoaçam pelos centros comerciais em busca sabe-se lá do quê, entrando e saindo das lojas uma vez atrás da outra, evitando abordagens dos lojistas.
 Eu já havia observado este comportamento em varios clientes, mas não ao ponto de os catalogar, de entender que fazem parte de uma sub-espécie de homínideos, cujo propósito é unica e exclusivamente ocupar-nos o tempo.
 Exactamente, ocupar, porque este tipo de cliente buscam algo que nem eles próprios sabem, talvez o artigo prefeito, a Excalibur dos artigos.



 O que fazem, (chagar-nos o cérebro), já sabemos, mas porque existem e como se desenvolvem foi algo que me assolou a mente até á pouco tempo, quendo revi este já classico filme de Sci-Fi - A Mosca.
 Naquele momento fez-se luz, os clientes moscas, são nada mais nada menos do que cientistas tentando deslocações espaço temporais de loja em loja. Senão vejamos o seguinte exemplo: Há cerca de um ano uma das minhas colegas desabafou comigo que tinha um cliente que entrava varias vezes na loja fazia as mesmas perguntas, experimentava o mesmo artigo, para depois sair.
 Achava ela tratar-se de um tipo de stalker, que entraria na loja com o propósito de a ver. Eu na altura não dei muita importância, até a dita personagem me calhar na rifa.
 Em primeiro lugar, tal qual todos os tipos de Dipteras (nome da familia das moscas), começou por esvoaçar de montra em montra, dando pequenos encontrões no vidro como se não percebece que estava ali aquela barreira a impedi-lo de entrar. Após algumas cabeçadas lá dá com a porta. Dirije-se imediatamente para um artigo que pede para experimentar - "Sente-se aqui e esteja á vontade!"- digo-lhe após o comprimentar, "Posso caminhar?"-"Claro", ora bem, digamos que, com o meu consentimento, não esperava que fosse fazer a maratona de S Silvestre dentro da loja e já depois dos primeiros três quilómetros fui obrigado a perguntar - "Então?Que tal? Gosta?"-"Ainda estou indeciso!". Como, "ainda estou indeciso"? estás á dez minutos a esvoaçar na loja com o artigo e não sabes se gostas ou não? 
 Naquele momento e já com alguma certeza que se tratava de uma Mosca Humana, imaginei um daqueles dispositivos que encontramos vulgarmente nos talhos ou cafés - aqueles que electrocutam os insectos- mas em tamanho de gente, a fazer o seu serviço, quando fizesse mais uma passagem á minha frente. Era lindo... mais uma passagem e bzzzt... mas não, saiu da loja esvoaçando até á próxima vitima. Eu, entrantanto, já comprei Baygon, Raid, Dum Dum e Ezalo.

terça-feira, 23 de maio de 2017

When Harry met Sally

 Boas,

 O post de hoje leva-nos ás origens, ao momento em que aquela faísca se acende no teu peito. Quando ficas com borboletas no estômago, quando não sabes o que dizer, como reagir, mas gostas, gostas de tudo e queres absorver cada gota e cada momento - o meu primeiro dia de trabalho nas vendas.
 Estávamos em 1998 e eu, já no segundo ano dos meus estudos, impulsionado pela minha namorada, hoje esposa, decidi arranjar um emprego.Já tinha trabalhado antes como estagiário num escritório, mas nada me tinha preparado para aquilo.
 Na altura sinceramente pensei no trabalho, como forma de começar a ganhar dinheiro, algo transitório, pois pretendia fazer carreira em televisão, no teatro, na música ou no cinema, áreas com as quais o curso se relacionava directamente e que sempre foram a minha paixão. Por isso, quando fui chamado para uma entrevista, numa grande superfície e me perguntaram se ficasse para onde gostava de ir, respondi - "Para a secção de queijos"- isto apenas porque adoro queijo e portanto, era a única coisa que me ligava aquele lugar.
 Fui parar á secção de informática, porque cresci junto com o boom dos computadores pessoais, ( o meu primeiro PC foi um Comodore 64) e tinha posto no currículo que percebia de informática.
 No dia 6 de Maio de 1998 entro ao serviço, estava nervoso, muito nervoso, tão desconfortável como se sentiu o Harry na famosa cena do restaurante do filme, mas ao mesmo tempo, maravilhado.


 O meu chefe apresentou-me a uma promotora, a D Clarinda, representante da marca DLI, que era como uma chave inglesa, se querias algo, ou saber como era, perguntavas á Clarinda. Mandou-me contar jogos e eu agradeci, (ao ponto de passados todos este anos me lembrar de códigos de barras completos), porque a ideia de atendimento ao público me aterrorizava.
 Não durou muito! Durante a tarde veio-me chamar -"Hugo, não podes ficar metido no armazém o dia todo! Há pessoas para atender!" - há pessoas para atender - foi como me dissesse " A sua consulta para o toque rectal é hoje!". Nem tive tempo para respirar, pois quando saio do armazém está um cliente á porta que me diz - "Venha cá que preciso de ajuda!"- exacto! Nem bom dia, boa tarde, ou, é desta secção...nada, nem aqueceu, foi " anda cá moço, que das tuas costas trato eu"! Sim das costas, porque o meu primeiro atendimento ao cliente foi na secção de móveis a alombar com um camiseiro até á caixa.
 Mas a verdade é que quando regresso da caixa e chego á minha secção era um tipo novo, a conversa circunstancial que mantive com o cliente do linear até á caixa e o seu "Obrigado pela a sua ajuda!", foram como que um baptismo, que me libertou do terror do atendimento, para passar a encarar cada abordagem como uma conversa e este tem sido mote até aos dias de hoje. Cada cliente é para mim como que um amigo que não se vê há muito tempo, portanto, na hora da abordagem a energia é canalizada nesse sentido, como se visses o teu amigo da primária pela primeira vez desde há dez anos e lhe dissesses " Anda cá sacana! Dá-me um abraço ganda porco!"- eu sei... os homens tratam-se mal uns aos outros, mas o grau de maledicência é equivalente ao afecto sentido, não se esqueçam. 
 É por isso, foi por este motivo, que, "Quando Hugo conheceu as Vendas", se tornou no filme mais longo da minha vida.

domingo, 21 de maio de 2017

Cable Guy

 Boas,

 O post de hoje fala-vos de alguém que todos que trabalham no atendimento ao público conhece muito bem - o amigo do cliente, mais conhecido por Melga.
 O melga, tal como no filme, é o emplastro que vem colado no cliente e que tem o dom de, sabe-se lá porque razão, influenciar a decisão de compra do cliente.
 Tenho a certeza absoluta que existe um propósito escondido nas atitudes do melga, sendo que esse propósito é o de boicotar a venda colocando entraves e objecções, que o próprio cliente, não se lembrou de colocar, igualando assim o nível de dificuldade da venda, por vezes, praticamente á capacidade de pilotar um veículo orbital.
 Para aqueles que pensam que o Melga é só um conhecido/amigo de circunstância, ou até alguém que o cliente arranjou para lhe fazer companhia, desengane-se. O melga é um meta morfo e pode assumir a forma de pai, mãe, namorado, marido,esposa ou até de toda uma família. Não é uma entidade, é uma condição.


 Bem, não estou com isto a dizer, que sempre que me entra um cliente acompanhado, quem o acompanha é o Jim Carrey e que nos vai fazer a vida negra...se bem que ás vezes falta pouco.
 Uma dessas vezes passou-se já no meu presente local de trabalho, logo na abertura da loja.
 Nesses dias, como tudo era novidade, ainda não estava familiarizado com o cliente tipo, por isso estava, digamos, daltónico das ideias.
 O batismo foi, como não podia deixar de ser á grande, com toda uma família de Melgas que vinham acompanhar a filha/neta/irmã.
 A cliente necessitava de um calçado para o trabalho, mais propriamente para ambiente hospitalar, o que reduz drásticamente as opções de compra, até mesmo por regras impostas.
 "Bem"-digo-lhe-"Nesse caso temos estes aqui, que é o que normalmente os clientes levam para esse tipo de serviço."-"Ui! Que coisa feia filha! pareces uma pata choca!"-diz-lhe de imediato a avó- "se engolisses uma enguia eléctrica é que era velha", pensei eu. "Acha avó?Mas são muito confortáveis","Ouve a tua avó"-diz-lha a mãe, "sim, ouve a velha, que a única coisa que opina com razão é na marca de todos os medicamentos da farmácia", pensei eu já com uma azia considerável.
 Nesta altura, antes que mais um membro desse uma opinião tão construtiva como as que tinham sido proferidas, resolvi intervir - "Bem, nada contra os gostos pessoais, mas a menina é que os vai usar, não é?"
 "-Sim de facto! E eu gosto!", "Gostas?!Tu é que sabes! Depois não me peças para cá voltar!"- responde-lhe o pai.
 Nesta altura penso, "Fonix, mas isto é um filme da Disney? Só falta o corcunda de Notredame", quer dizer, na realidade não faltava, porque o avô estava sentado lá fora com o neto mais novo.
 "-Não há qualquer tipo de problema, se mudar de ideias, pode trocar ou devolver!tudo tem uma solução!"-"Então assim fico mais descansada!Eu levo!Até porque gosto!"
 E pumba! Vendedor - um, Família Fezes Cerebrais - zero! Vai buscar!
  

quinta-feira, 18 de maio de 2017

Sex, Lies and videotape

 Boas,

 O post de hoje não fala de uma situação específica, mas sim, do dia a dia normal de quem trabalha na áre do retalho. 
 A analogia com o filme "Sex, Lies and Videotape" prende-se, não com o enredo textualmente, pois embora por vezes pareça, mas de facto, não fazemos terapia de casais nas lojas, mas sim porque o dia a dia de um lojista podia ter o título de "Vendas, Mentiras e Videovigilância".
 Isto porque, desde que abrimos o estabelecimento, respiramos números, somos engolidos por eles, quer de uma forma eufórica, quando estamos em alta, quer sob uma pressão enorme quando estamos em baixa.
 De facto, (e isto poderei deixar para um post posterior), não conhecer profissão mais parecida, com o futebol do que as vendas, onde a viagem de besta a bestial e vice-versa, se processa á velocidade da luz.
 Depois, porque de mentiras, sim, não sejamos hipócritas, mentiras, estão as vendas cheias, quer da parte de alguns que vendem, que se acham mais inteligentes do os que compram e por isso fazem uso da já famosa "publicidade enganosa", quer dos que compram, porque pensam por serem "clientes" têm o dom da omnipotência e que, portanto, a razão e verdade está sempre do lado deles.


 Existe ainda o facto de tudo isto, a vida que temos trabalhando, fazer parte de um gigante reality show pois somos gravados "vinte e quatro sobre vinte e quatro", como diriam os concorrentes desse famigerados programas e para além disso, somos também chamados a ser seguranças de um estabelecimento, respondendo na primeira linha a quem nos quer levar, aquilo que nos custa a vender.
 Num centro comercial, não é de todo estranho, ver um lojista a sair disparado da loja atrás de alguém, correndo o risco que lhe reorganizem a estrutura dentária, ou se o sangue ferver menos, atrás do segurança do shopping a pedir ajuda.
 Pois é, "Sexo Mentiras e Vídeo" foi um marco na história do cinema, porque abordou temas incómodos para a época, tendo motivado amplas discussões e uma "moda" em visitar psicanalistas por tudo e por nada.
 Já "Vendas, Mentiras e Videovigilância" é um filme intemporal, de uma realidade que nos toca a todos, isto porque ser lojistas não é para quem quer...

terça-feira, 16 de maio de 2017

Once upon a time in America

 Boas,

 O post de hoje fala-nos sobre aquela história que nos aconteceu e que contamos muitas vezes, porque nos marcou, porque é engraçada, porque é triste, porque dá raiva, ou pura e simplesmente, foi tão insólita, que parece até mentira.
 Todos nós temos uma, ás vezes várias, situações que nos ficam gravadas nas células cinzentas e que, por vezes, quando vivenciamos determinado momento, nos vêm á memória sob termo de comparação, do tipo, "Nãaaa, daquela vez é que foi...".
 Tal e qual como naquele que, para mim, é até á data, o melhor filme de gangsters de sempre - Once upon a time in America - com uma não menos brilhante banda sonora de Ennio Morricone, " Era uma vez no Retalho", podia ser muito bem uma sequela da obra, pois teria sem dúvida, bem mais do que as quatro horas de duração do filme de Sergio Leone.


  
 Ora bem esta história passou-se há uns anos valentes e contada, parece sem dúvida um filme, mas foi bem real.
 Nessa altura trabalhava numa grande superfície, na área de informática e modéstia á parte, éramos muito bons. Bons ao ponto, de sermos cobiçados por outras empresas, ou até, de fazermos trabalhos de manutenção inloco ou em domicílio, isto quando a secção Micro-clinica não passava de um sonho futuro.
 Num desses dias fui abordado por um indivíduo de look, que embora não fosse usual, não me fez levantar suspeitas sobre a sua idoneidade.
 "-Boa tarde! Disseram-me que aqui havia bons técnicos de informática e preciso de ajuda!" - "bom, desde que não seja assistir a filmes porno com a namorada ou fotos de igual teor com os mesmos protagonistas, como em situações anteriores em que, com os intervenientes á minha frente me ia dando um ataquinho, tudo bem"-pensei eu-"Força, o que se passa com a máquina?"
 "-Não sei!"- responde-me - Como?!Não sabe?Mas então? - "O que eu preciso, é que a veja e diga se tem algum problema". "-Deixe-me me ver se percebi, o portátil está a funcionar bem e o senhor quer que eu faça um check up porque?"-"Quero vendê-lo! E pretendo que o senhor me avalie o pc!"-" Mau, mas aqui diz "informática", ou diz "Avaliamos cenas"? 
 Naquele momento começo a ficar com o pé atrás e o tipo, por sua vez começa a dar sinais de nervosismo. Ligo o pc e vou diretamente ás informações do proprietário, e qual não é o meu espanto, a máquina está registada numa pessoa do sexo feminino e que por coincidência trabalha no mesmo sítio do meu pai.
 Uau, isto está aficar com contornos policiais e embora o tipo não seja nem um James Woods, nem um Robert De Niro, começa a ser intrigante.
 Invento uma desculpa para me ausentar e levar o pc para uma rápida"análise detalhada" e ligo com o meu pai. 
 Responde-me ele, que sim senhor a pessoa é colega e vai-lhe perguntar se tem o pc. A resposta surge uns segundos depois sob a forma de - "Ela achava que sim mas desapareceu!". 
 Pimba!Estou face a um gangster! Fraquinho, é verdade, pois se precisa de vir a um hipermercado avaliar o produto de um furto, a carreira no crime não dará certamente os frutos que rendeu aos quatro comparsas do filme, mas mesmo assim um gangster. Peço para chamarem a policia e o tipo, que pese embora fosse burro, não era desprovido da totalidade da matéria cinzenta, mete-se ao fresco.
 E foi isto, um verdadeiro filme de gangsters...e sem gajas, sim porque filmes destes sem gajas são raros, que o diga o De Niro!

quarta-feira, 10 de maio de 2017

Terminator

 Boas,

 O post de hoje, fala-vos, de um determinado tipo de cliente, não tão raro quanto isso e que, tem a especial capacidade de se comportar como um cyborg, bem ao estilo de um gélido Terminator e não, nunca tive a oportunidade de conhecer o Arnold.
 Estes clientes têm, na minha perspectiva, graves problemas de comunicação, sendo por isso necessário a presença de um/a intérprete de forma a que o lojista consiga estabelecer um diálogo e compreenda as suas necessidades.




 Há já algum tempo, trabalhava eu para os lados de Ovar, quando, aí por volta das 21 horas, entra um casal normal, (achava eu), na loja. O dia tinha sido bem parado, por isso, qualquer alminha que nos entrasse porta dentro, era tratado como se de sua Santidade o Papa se tratasse.
 Ora estava eu no gabinete, quando a funcionária me entra esbaforidamente pedindo a minha ajuda - " O que se passa? Alguma reclamação?"-pergunto-lhe."-Não, não! Preciso de ajuda para os atender porque já me está a dar uma coisinha má!", "-Mas quê, são de Arouca?"- a razão da minha pergunta prendia-se do facto de os clientes cromos que atendíamos, serem geralmente daqueles lados.
"-Olha, eu nem sei de onde são, só sei que estou há vinte minutos a tentar explicar as diferenças de uma máquina de lavar roupa e nepia..."
 Aproximo-me, tentando medir ao de longe o grau de simplicidade a utilizar - "Boa noite!-"Boa noite! É você que vai fazer entender ao calhau do meu marido o porquê das diferenças de preço?"- fiquei um pouco aturdido com a interpelação, pois quando o intérprete não está disposto a ajudar, então o caso é mais grave.
 "-Bem, certamente vou tentar!"- respondi com um ar brincalhão. "-Então qual é a dúvida do meu caro amigo?"-"-Eu?Eu não tenho dúvida nenhuma! Eu quero é que você me diga porque é que eu tenho de pagar mais por esta que a sua colega me quer vender!"
 ...Quando te dizem que não há dúvidas mas que querem que tu expliques uma coisa, das duas uma, ou tens a capacidade cognitiva de uma alga, ou então, gostas que os outros pensem que sofreste uma embolia cerebral.
 "-Sabe, tem tudo a ver com quantidade de roupa que se pode lavar. Uma consegue mais do que a outra!"-"E por isso mais 150€?!? Lava-se mais vezes!"- responde-me- "Pois, mas assim, vai gastar mais água e electricidade tornando tudo mais caro!"
  "-Bem, deixe-me pensar! Eu volto já!" - Ora bem, não é que isto fosse um "I'll be back!" Dito em tom robótico, mas deixou-me a pensar no porquê da temporização. Seria um defeito no processador? Demasiada informação? Eu gostava de saber responder, mas a verdade é que provavelmente o tempo de permanência no nosso ano tinha-se esgotado e o cyborg voltou para o futuro...

domingo, 7 de maio de 2017

Unforgiven

 Boas,

 Sabem quando têm aquele tipo de sensação do género, "não estou em mim", ou ainda como se estivesses a falar com alguém e aquilo não batesse nada certo? Como se por muito que te fizesse entender o feedback era zero?
 Pois é, o post de hoje fala disso mesmo, de não comunicações que te levam a um estado de nervos tal, que,se estivéssemos no século XIX no oeste americano, provavelmente haveria um ajuste de contas ao estilo de Clint Eastwood em Unforgiven. É que no fundo no fundo, há uma besta maléfica em todos nós, só que graças a algo que temos chamado cérebro, a mesma permanece bem enterrada só espreitando, (em alguns casos, como o do filme com uma boa dose de whisky do Tennessee).
 Ora em Retalho, essa besta aparece muito sob a forma de cliente, por isso, o lojista tem de dominar a arte Zen de adormecimento mental, de forma a que, o que nos gargarejam seja entendido como -" Ai que lindo!!!! Gosto de tudo, tudo, tudo!"- Ok, vá, não de uma forma tão aparvalhada, mas entendem o que eu quero dizer.
 Muito raramente, o lojista, não consegue dominar na perfeição a arte e aí, bem aí o Clint vem fazer uma visita.



 O caso que vos relato, passou-se com um colega meu, há uns anos valentes, na minha presença, no saloon do retalho - vulgo Serviço Pós Venda.
 Como já vos contei num post anterior, nas grandes superfícies é-se muitas vezes chamado a substituir os colegas do SPV por diversos motivos, sendo que por vezes devido ao fluxo intenso de clientes eram necessárias duas pessoas. Num desses dias estando eu e o meu colega a atender, um senhor aproxima-se do balcão e chama o meu colega "-Ó pssst! Chegue aqui!"- o meu colega, como adivinhando o que se aproximava comenta - "Não queres ir lá?"-"Desculpa, mas já tive a minha dose de cefaleia hoje" - disse-lhe em tom de brincadeira.
 Após um diálogo inicial de que não me apercebi pois estava com outro assunto em mãos, surge o primeiro disparo no saloon - "Quero falar com o gerente!" - arma muito utilizada, pois não são permitidos Colts Single action no SPV.
 O meu colega continuava muito calmo dizendo-lhe que não havia qualquer problema em chamar a gerência, mas que a resposta seria a mesma, pois o que o senhor pedia, não era possível, (tratava-se de devolução de um filme aberto, que por direitos de autor não é possível efectuar).
 Ao ouvir isso o cliente dispara - "Você é uma vergonha de funcionário e está aqui, está a levar na tromba!" - bem, quando não és claramente um Gene Hackman e te armas em xerife, pode ser que o tiro te saia pela culatra e que os dentes comecem a ser alvo de cobiça do punho do outro interveniente.
 "-Está a ver isto?" - diz-lhe o meu colega, apontando para a gravata e crachá enquanto os tirava rapidamente, "-Quando saírem já não represento a loja e estou lá fora á sua espera no parque de estacionamento!".
 Naquele momento era capaz de jurar que me cheirou mal, cheiro esse, provavelmente provindo da roupa interior do cliente, que claramente não estava á espera do duelo para que acabava de ser desafiado.
 O meu colega já ia longe em direcção á saída, por isso interpelei o cliente - "Está tudo bem?Posso ajudar em algo mais?","Nnnão"-gagueja- "deixe estar que eu até gosto de ficção científica, eu fico com o filme"- responde-me dirigindo-se para a porta oposta á do meu colega.
 Pois é amigo, metes-te com o Clint, ele não perdoa...

quinta-feira, 4 de maio de 2017

GranPa

 Boas,

 O post de hoje é uma homenagem. Um pequeno tributo a um grande homem, que, para mim, foi até hoje o melhor coração que já conheci e um exemplo a seguir - O meu Avô.
 Não vou estar aqui com melancolias porque tristezas não pagam dívidas e o meu avô era um homem pratico e decidido, se era pra fazer, fazia-se. Muito ao estilo de um De Niro em Dirty Granpa - loucuras á parte, claro - sem se achar velho e sempre pronto a ajudar.


 Tinha sempre uma palavra amiga, um conselho e muitas vezes um raspanete se as coisas não fossem á sua maneira. Era muito assim do estilo, "What you see, is what you get.", sem surpresas.
 Divertido, gostava de assobiar e cantarolar umas cantigas que só ele conhecia e não tão poucas vezes assim, inventava umas histórias divertidas, ( eu durante muito tempo pensei que Cascos de Rolha era uma terra a sério).
 Hoje deixou-me, a mim e a todos nós. Está certamente chateado, porque não planeou isto, ele que era um Homem que detestava algo que fosse fora da rotina e que organizava tudo com bastante tempo de distância.
 Eu, por minha parte também estou uma pilha, porque não me ligas-te e as quartas-feiras nunca mais serão as mesmas.
 Amo-te Vôvô!

terça-feira, 2 de maio de 2017

Che - A revolutionary life

 Boas,

 Seguindo a sugestão de uma amiga, o post de hoje fala de um dia que representa uma conquista da sociedade moderna, mas que do ponto de vista de alguém que trabalha em retalho é vivido de uma forma completamente diferente.
 Falo-vos do 1º de Maio. 
 Não é que Che Guevarra tivesse algo a ver com a implantação do dia, ele tinha mais queda para golpes militares na América do Sul, tal como podemos ver no filme, brilhantemente interpretado por Benicio Del Toro. Só que, se um tipo fala em revoluções o Che está lá! O 1º de Maio foi de facto obra de um cérebro colectivo de trabalhadores que, queriam entre outras coisas, um dia só seu. 
 Ora bem, tal qual como Che falhou em implantar o Comunismo em toda a América Latina os trabalhadores, falharam em conseguir um dia só para si. Quero com isto dizer, que embora tenham conseguido jornadas de trabalho de oito horas, ordenados mínimos, folgas etc, falhou no mais importante, na transformação de mentalidades.
 Portanto, com isto em mente, o que fazer, quando não trabalho porque é feriado? Descansar? Passear?Um piquenique? Um filme?TV?Dolce fare niente? Não, vou ao shopping.


 Se o Che trabalhasse em retalho, no 1º de Maio viria trabalhar provavelmente, munido de uma AK47 e carregador duplo, pois se aos Domingos há tipos estranhos ás compras, neste dia especificamente, ultrapassam os limites, pois fazem lembrar o companheiro Fidel, mas não nos seus dias de luta e sim nos discursos infindáveis do fim da sua vida activa.
 Ainda ontem tive uma vontade imensa de mandar umas granadas para o campo de batalha quando três famílias tomaram de assalto a loja. 
 Uma das famílias, de origem Espanhola, tinha um filhote com o vocabulário de uma Catatua no cio, repetindo incessantemente -"NO!NO!NO!"- , mesmo depois de sair da loja ainda o podia ouvir no corredor, isto, não sem antes o pai se virar para a mãe e lhe dizer -"Mas porque sigues perguntándole sí le gusta?La única cosa que te contesta és "no"!"Que hostia de gilipollas eres?!"- bem, não sei se a mãe era uma idiota imbecil como o pai acabava de insinuar, mas que o filho tinha meses a menos no ano...lá isso tinha. 
 As outras duas famílias, entretanto digladiavam-se para ver quem conseguiria experimentar mais modelos, tombando dois, sempre que queriam experimentar mais um. 
 Respirei fundo e olhei fixamente para um dos miúdos que atirava dois pares ao ar, o qual olhando para mim sentou-se e ficou mudo. Tive nesse momento a certeza que a AK47 tinha disparado, porque se o petiz tinha fralda, certamente fez uso dela naquele instante.
 Diz-me um familiar - "Sabe como são as crianças não é?" - eu pensei comigo, "sim sei, mas isto não são crianças, são guerrilheiros do Hezbollah a lutar pela faixa de Gaza e nós não estamos em Israel".
 "-Sim, eu sei..." - respondi-lhe - "Olhe que há dias piores!"- "Ah sim?Piores"Che ondes andas meu?