quinta-feira, 30 de março de 2017

The good, the bad and the Ugly

 Boas,

 No post de hoje falo-vos do que dá vida a quem no comércio trabalha - clientes. Ele há-os para todos os gostos e feitios.
 Se há uns em que nos revemos, outros há que desejamos nunca ter conhecido. Uns são-nos indiferentes e por fim outros que nos marcam.


 Posso então, em abono da verdade, catalogá-los em 3 estirpes - Os Bons; Os Maus; Os Feios.
 Graças ao santo padroeiro de quem nas vendas trabalha - S. Tretas - (martirizado em 304 por Deocleciano por lhe tentar vender água benta fora da época de saldos), os bons são a maioria, embora também seja verdade que é dos Maus e Feios que melhor nos lembramos, por serem épicas as situações em que nos colocam.
 Vivemos constantemente num western spaghetti, bem ao estilo de Sergio Leone.
 Ainda há pouco tempo pensei estar num saloon de um destes filmes. Estava de manhã, sozinho, a rezar a S Tretas que me entrasse um cliente, quando, ouvidas as preces, não me entram um, mas sim três.
 Ao abordá-los fiquei esclarecido com o que cada um fazia ali, pois as suas posturas não davam azo para dúvidas.
 O primeiro (o Bom), respondeu á minha abordagem com um sorriso e um simples - "Vou dar uma olhadela e já o chamo". O segundo ( O Mau ), ignorou a minha presença e abordagem com um olhar de soslaio daqueles to tipo "Como ousas importunar a minha presença com a tua existência?". Por fim o último (O Feio), respondeu ao meu apelo num dialecto pouco perceptível donde, após o meu pedido de "podia repetir por favor?", me respondeu com "Estou a ver." - clássico.
 Até aqui nada do outro mundo, ( se bem que S Tretas podia ter sido mais meiguinho e mandar-me um cliente de cada vez), o insólito acontece quando O Feio me questiona sobre um artigo em fim de vida - "É este o preço?" - "Sim." respondo, " O Preço final está marcado individualmente em cada artigo."
 "É publicidade enganosa!" - diz O Mau do outro lado da loja, metendo-se na conversa, "Põe uns letreiros muito lindos na montra e depois não é nada disto!" - "A que se refere?" - pergunto-lhe eu de modo a que possa matar ali a "besta". "Isto! Onde estão os artigos de 70%?!" - "Aqui, também aqui e este também é!" - com a sapiência que caracteriza, quem se julga mais do que os outros, responde-me  com - "Pois... mas este não está!" - "Exacto! E eu também gostava de ser milionário, mas todos os dias trabalho para ganhar a vida." - Tau! mesmo directo na hipófise, que é para ver se o cérebro te cresce mais um pouco. O Feio sai em sua defesa com um eloquente - "Deixe lá que era só para ver!", (será que conseguia dizer mais alguma frase para além dessa?), a dúvida ficou-me até hoje.
 Com os dois fora da loja sou abordado pelo Bom - "Gabo-lhe a paciência! Não deve ser fácil"; "Deixe lá, respire, olhe quero dois destes!" - "Obrigado!" - respondo, entregando-lhe os artigos e despedindo-me. Quando sai da loja fico a pensar - "se Deocleciano fosse um cliente "Bom" naquele dia, talvez S Tretas se tivesse safado só com uma reclamação no livro...

terça-feira, 28 de março de 2017

Kindergarten Cop

 Boas,

 Eu adoro pequenada,  sinto-me em casa, porque eu sou basicamente igual a eles, com a infeliz diferença de não poder dizer e fazer tudo o que me dá na pinha.
 Desde pedidos de abraços, mostradelas de língua ás escondidas, momentos de euforia, toques de cumplicidade, segredos, (ainda esta semana tive uma reveladora confissão de -" O meu papá cheira mal dos pés!" - True Story),  mas acima de tudo, uma imediata empatia mútua, muitos foram e serão os momentos vivido e por viver com estes seres de palmo e meio.


 Lembro-me de uma menina que á frente da sua mãe parecia um bicho do mato não abrindo a boca nem exprimindo quaisquer emoções para comigo, mas que por detrás da mãe me brindava com "likes" e risinhos de mão na boca - uma delícia.
 Outra, que resolveu tirar o laço do cabelo e com quem me meti dizendo - "Agora despenteaste o outro lado" - indo muito afoita mirar-se ao espelho para perceber onde estava mal.
 Também os gritos, correrias, birras, choradeiras e afins fazem parte do quotidiano de quem no retalho trabalha, tendo nestes casos, muitas vezes de substituir os pais, que, ou domados por uma vergonha sem razão de ser, ou por simples incapacidade, falham em chamar á realidade os seus rebentos.
 Admiro também o facto destes pequenos clientes não terem ainda ligado o "complicómetro etário", algo que se ganha quando chegamos á idade adulta. em que temos sempre a tendência idiota de fazer um enorme filme para as situações mais simples.
 Eles não têm sequer concebido o estigma de "O que é que os outros vão pensar?", gostam ou não e pronto.
 Tenho pena de só nos conseguirmos livrar deste estigma novamente, já bem entradotes, onde a expressão "não gostas, não olhes" passa a fazer parte do nosso vocabulário.
 É por estas e por outras, que me considero um "Polícia no Jardim-Escola", não em modo Schwarzenegger, qual robô amolecido por afirmações épicas como "os homens têm pénis e as mulheres vaginas", mas mais do tipo Mr Bean, alguém que se dá bem com os pequenotes, porque no fundo deseja apenas ser um deles para sempre.

domingo, 26 de março de 2017

One flew over the CucKoo´s nest

 Boas,

 Já vos disse que gosto muito de cinema? Gosto...muito! Gosto simplesmente porque retratam de uma forma, mais ou menos fantasiosa, o que na realidade vivemos. Por isso gosto tanto de vos mostrar o quanto é possível fazer analogias no quotidiano de quem trabalha em Retalho e o filme menos provável.
 O post de hoje reflete isso mesmo. "Voando sobre um ninho de Cucos", é uma obra prima de 1975 (que bela safra), que basicamente nos diz que há um maluco em cada um de nós.
  Já o caso que vos trago poderia ser dúvida ser alvo de investigação científica, com contornos a roçar a demência ou bipolaridade.


 Há algum tempo, pela manhã entrou uma senhora na loja que me pedia um artigo específico para um uso também ele específico.
 Embora fosse ela, (dentro dos meus parâmetros pessoais) um pouco excêntrica na forma de vestir, agir e falar, mostrou-se muito simpática.
 Após ter experimentado vários modelos postos á sua disposição e ignorando o meu conselho decidiu-se por um modelo. Na altura disse-lhe - "Se me permite penso serem justos!"-"Mas sinto-me bem assim"-respondeu com um ar decidido.
Como em outras vezes, senti-me um perfeito anormal por tentar ajudar e o pensamento -" Se cada vez que fosses abrir a boca para aconselhar levasses com uma bigorna nos dentes é que era...".
 No dia seguinte recebo um telefonema da loja dizendo-me que, quando entrasse ao serviço teria que ligar com uma cliente que estava um pouco chateada - "OK" - pensei - "Nada, que um pouco de bom senso não resolva".
 Ligo á senhora e sou imediatamente transportado para uma outra realidade, num futuro não distante onde certos humanos se alimentam de discussões.
 Depois de me dizer que eu era um anormal, por não ter forçado a que levasse outro tamanho, (eu não vos disse - bigornas...bigornas é palavra chave), disse-me que tinha-lhe que trocar . "-Claro! Não há qualquer inconveniente só tenho de pedir o artigo!" - "NÃO!!!" - berra-me do outro lado -"-Eu não sou mais do que os outros e não tem de me pedir um artigo especificamente para mim!!!"-"Mau..."- pensei - "Mas isto é para os apanhados? Só falta agora entrar o Mr Bean!"
 "-Mas minha senhora... eu não estou a abrir excepções, temos é de encomendar porque está esgotado." - "-O Sr é sim um grande mentiroso!"-"OI?!" - é que me saiu na hora e nem sou Brasileiro - "-Sim, sim, na altura, quis que eu levasse esse e já sabia que não havia mais tamanhos!"
 Bem, ao proferir este argumento percebi que faltavam telhas naquela casa e não ia ser eu o arquiteto que ia resolver, até porque, no filme, Jack Nickolson acaba lobotomizado e eu não me quero andar aí a babar pelos cantos.
 Entro então em modo silencioso onde basicamente levas o cliente a perceber que está a falar sozinho e que foi uma besta. Nessa altura, quando penso que acalmou e que vamos chegar a acordo, dispara - "Quando for aí não o quero ver á minha frente!Marque a entrega quando estiver de folga"! - "-É um favor que me faz!" - digo-lhe.
 Não resisti á resposta, confesso, mas tinha de ser, porque senti que mais do que nunca, precisava urgentemente de uma bigorna...

quinta-feira, 23 de março de 2017

The Walking Dead

 Boas,

 Venho falar-vos hoje de um acontecimento que se tem vindo a espalhar um pouco por todo mundo e que teve origem nos EUA - A Black Friday.
 Este dia glorioso em que os retalhistas baixam os preços a níveis baixíssimos teve, na minha opinião, um efeito vírus no cérebro dos compradores, que neste dia entram num estado primal com visão turva (por vezes nem notam que há certos chicos espertos que não baixaram preços, ou pior subiram-nos para os "descer" naquele dia), e que em conjunto ficam ainda mais irracionais soltando onomatopeias como se de Zombies estivéssemos a falar.


 Este ano no dia do evento tive a confirmação das minhas suspeitas. Existe de facto um vírus Black Friday que afecta os seres Humanos neste dia, senão vejamos.
 Estava eu a tomar café descansado junto ao trabalho quando olho para o exterior e vejo uma amálgama de gente, aglutinando-se junto á porta. Vou espreitar e tenho a visão de um juízo final de seres colados aos vidros das portas com um ar extremamente mortiço e vegetativo ( e ainda faltavam 20 minutos para abrir). Imaginei que não tardavam aí a cair do tecto uns tipos vestidos de negro contratados pela Umbrella Corp para lhes fazer a folha e que a Mila Yankovich os liderava decepando tudo o que lhes aparecesse aos estilo Resident Evil. Mas não, eram só uns tipos das limpezas com umas máquinas estranhas a preparar o shopping para a debandada que se adivinhava.
 Deixei-me ficar á porta da minha loja, porque estava curioso em como se movimentariam esses seres, uma vez soltos e qual a sede de morte com que vinham, eis que então... nada, entraram ordeiramente sorrindo, sem empurrões, dirigindo-se ás suas lojas de eleição sem grande alarido.
 Surgiu-me então o pensamento de que poderia ter havido de facto um anti-vírus, administrado em massa, ao mesmo tempo que passavam as portas... mas não, eu é que me deixo levar pelas cenas que vejo na TV   

terça-feira, 21 de março de 2017

Game of Thrones

 Boas,

 Já vos disse que gosto de GOT? Gosto! E muito! Chavões como "Winter is comming!" ou "All men must die!", não deixam ninguém indiferente. 
 Penso que é daquelas séries que, quando se gosta, adora-se, não há um meio termo do tipo.. "é fixolas e tal", é ou tudo ou nada! 
 ...Excepto se a guerra se passar no mundo do retalho... então aí, o caso já muda de figura.
 Falo-vos dos Saldos...é...da Guerra dos Saldos, com duas temporadas por ano, que deixam os clientes colados á sua espera, e que, tal qual na série de televisão, o enredo é ser dominante e um exemplo a seguir.



 Na verdade, se virmos bem, se Westeros for o shopping, cada loja será uma casa, em alguns casos, haverá alianças e as promoções são a arma secreta com que as casas querem conquistar um lugar de primazia em Westeros. Uns são mais diplomaticos, outros mais agressivos, há ainda os mais cruéis que não fazem promoções mas passam a ideia que sim e os inteligentes que jogam antecipado ou imitam as casas com mais sucesso.
 O problema está nos outsiders, vulgo, visitantes, sendo que  temos três tipos deles:
- Em primeiro temos os visitantes que compram e são aliados dos saldos chamemos-lhe "A Patrulha da Noite" - Por exemplo " Posso ajudar?", "Sim! Estou muito contente com o que comprei aqui no verão e agora que vem aí o inverno pensei em vocês!".
- Em segundo, os visitantes indecisos e mais difíceis de converter, que não gostam de ser abordados e querem estar na sua, mexendo, comparando, entrando e saindo - "Os Selvagens" - "Está á procura de algo específico?". Como? Então quem sabe? É o  Alto Pardal queres ver?"
- Por último, os que não compram, que desarrumam tudo, chegando ao ponto de destruir, gerando o caos e tentando que todos os outros lhe sigam o exemplo  - os "Caminhantes Brancos". "Se precisar de ajuda é só dizer" - resposta enquanto atira ao chão 3 artigos - "Não!Estou a ver" - ao que dá vontade de... "Vias...vias mas era um petardo nos olhos que até deixavas de ser um morto-vivo"...
 A guerra é dura, com algumas casas fazendo de tudo para vender, chegando a aliciar  clientes Selvagens com promoções mais agressivas, uma vez que os clientes da Patrulha da Noite, são geralmente fiéis e com um código de honra muito forte, comprando pré-determinadamente nas sua lojas de eleição.
 Quanto aos clientes Caminhantes Brancos, esse aparecem geralmente nos fins de semana e depois em massa no final da época, rebuscando cestos e lugares escondidos, enfeitiçados pelas conjurações " últimas oportunidades" e "remate final", que são dos feitiços mais poderosos e que nem eles conseguem resistir.

 No final quem sairá vencedor? Não sei... O melhor é esperar pela sétima temporada que chega lá para junho... 


































domingo, 19 de março de 2017

Luke! I´m your father!

 Boas,

 Volto com imaginário Star Wars como pano de fundo do post de hoje.
 Venho falar-vos de algo que me faz muita confusão e que tenho assistido bastante frequência - O facto de Pais que não sabem as medidas dos seus pequenos mais que tudo.
 Vamos lá ver, eu até compreenderia se o Pai fosse o Darth Vader que descobre o seu filho Luke, já bem entradote nos seus vinte e picos e que, portanto, não não faz a mínima do quanto veste ou calça. É que, caraças, não estamos a falar de um Sabre de Luz, que é algo muito pessoal, falamos de quanto é que o teu pequenote de 5 anos calça ou veste.


 E engane-se quem pense que é um problema meramente masculino. Ainda no outro dia, estava eu sozinho já bem noite dentro, quando me entra uma senhora pedindo-me imediatamente ajuda com a seguinte frase - "Preciso de um par para o Tomás!" - Claro, eu e o Tomásinho somos conhecidos á décadas e logicamente que sei de cor e salteado quanto mede desde o dedão até ao coco da cabeça!
 - "Desculpe" - respondo-lhe eu - "Mas tem de ser mais especifica" - "Caraças e agora?" - deve ter pensado, pois gerou-se ali um incómodo silencio que durou alguns momentos - "Pois... não sei..." - respondeu - "Um momento que vou ligar ao pai!" - e eu ali, a assistir de camarote. Do outro lado, embora não ouvisse a respiração ofegante do Vader, é verdade, que também não ouvi nada, porque do outro lado, também não havia certezas na resposta.
 A medo, interrompo - "Posso?" - "S ssim..?"-responde- "Qual é a idade? "-"Tem 5."-" Então muito provavelmente será este!"
 - "Como sabe?!?" - Perguntou - e pensei eu, "Sabe Senhora não é preciso ser um Lord Sith e dominar o lado negro para lá chegar!"
 - "É o habito !" - respondi, olhando para uma cara de espanto do tipo "uahhhh"- Se fosse o Darth diria algo como - "I find your lack of knowledge... disturbing"

quinta-feira, 16 de março de 2017

They call me Trinity

 Boas,

 Quando era miúdo, fui com três colegas ao cinema ver um western diferente de todos os outros - Trinitá, o Cowboy insolente! - é daqueles filmes dos quais nunca nos esquecemos pelas personagens que tem, das cenas, das musicas e dos vilões. Os vilões... esses eram épicos, com um grau de estupidez sem precedentes, bem ao estilo dos Looney Toons .
 Ora, eis que, passados trinta anos os continuo a  ver (aos vilões), todos os dias quando trabalho. Essas "famílias" de traços mexicanos a quem poderemos apelidar de "Los Mirandas" e porquê? Porque, tal qual como no filme em que galopavam em círculos a cavalo disparando para o ar aos gritos de -"Ándale!Ándale!" - na vida real, "Porque míran y andan".
 No dia a dia de um lojista, deparamo-nos com variados tipos de clientes.
 - Existem os que compram, os que não compram, mas que são tão simpáticos que dá gosto falar com eles, os melgas, que bombardeiam perguntas, para depois comprarem e dizerem que adoraram e só querem ser atendidos por ti, os curiosos que só vieram conhecer mas não podem/querem comprar, os complicados que colocam objecção uma atrás da outra... e depois... depois existem Los Mirandas.


 Los  Mirandas, não entram, não compram, não criticam, não param a ver a montra, não tecem comentários...nada... só passeiam... Andam ás voltas, passando uma, duas, ás vezes três vezes em movimentos repetitivos. Porquê?Porquê? Não haverá nada mais interessante para fazer?
 Nesses momentos quem me dera ser um Bud Spencer, para lhes arraiar uns daqueles estalos no cachaço que tanto me fizeram rir numa de "Tás a  fazer pá?"  "Pega lá duas na boca e vai levar a tua miúda a passear... ou á praia... ou ao cinema...ou... sei lá, ao Netflix ver um dos meus filmes que está em reposição" "Ándale!Ándale!"

terça-feira, 14 de março de 2017

Wake up from the Matrix

 Boas,

 O caso de que vos falo hoje, não se passou directamente comigo, mas com colegas. 
 Há uns tempos valentes o meu local de trabalho foi visitado por alguém que, suponho, viva numa outra realidade, em um mundo de sonho onde podemos voar, parar projécteis com um mero pensamento e ser Aquele, o Único, capaz das coisas mais incríveis, inclusivé, de fazer... a reclamação impossível.
 Assim foi, naquele dia, pela tarde, com a loja cheia, entrou esbaforida uma Senhora, que passando á frente de todos, exigia falar com o responsável.
 O estado da senhora era, no mínimo alterado, a roçar um surto de esquizofrenia, dizendo aos berros que isto não ficariam assim. 
 Vamos lá a ver isto...como... o quê? 
 Após a reclamação no livro que exigiu de imediato e para começar, segue-se então um discurso no qual é descrito o seguinte dilema.
 Depois de usar um artigo ali comprado, senhora alegava ter-se magoado seriamente, ao ponto de ter sido assistida no Hospital e ter levado 17 pontos.
 Atónitas, as colegas perguntaram-lhe o que se tinha passado e qual era o produto em questão, também á quanto tempo tinha sido comprado e se tinha o talão - perguntas normais digo, depois de afirmações tão graves.
 Não sabia há quanto tempo, não tinha talão nem o artigo consigo e o produto descrito pela senhora, nunca tinha sido visto por ali, nem tampouco existia.
 Ao ser confrontada com a questão - "Tem a certeza que foi aqui que comprou?" - saiu esbaforida da loja sem nunca mais voltar...





Quando me contaram o episódio o meu pensamento foi "You take the blue pill and you wake up in la la land as nothing was. You take the red pill and I´ll show you how deep the rabbit hole goes!"
 É que nem o Laurence Fishburne o diria melhor!

domingo, 12 de março de 2017

From Dusk till Dawn

 Boas!

 Sou um amante de filmes e Tarantino é simplesmente espectacular, (quem ainda não viu os "Hateful Eight", veja por que é um must), mas, publicidade á parte, a razão porque falo em Tarantino é porque um dos seus primeiros filmes - traduzido com enorme sapiência para Português como " Aberto até de Madrugada", me fez lembrar uma saga porque todo o estabelecimento comercial passa na hora do fecho.
 Chamemos-lhe o que quisermos...necessidade de última hora, solidão, curiosidade, impulso, ou pura e simples estupidez, a verdade é que, não raras as vezes, no momento em que soa a comunicação de fecho do estabelecimento há sempre um tipo a entrar na loja.
 Porquê? Porquê? A loja só esteve aberta treze a quatorze horas! Nada de especial não? É só mais de metade de um dia.





 Já muitos lojistas falaram certamente entre si que, se por algum motivo, a loja fechasse por dia apenas das seis ás sete da manhã, havia um tipo que chegava ás cinco e cinquenta e nove porque precisava de ver uma coisa.
 Sim, para ver, porque outro denominador comum a este "last minute visitor" é o facto de em 99% das vezes não compram nada.
 E ainda existe um subgrupo os "late last minute visitors" que conseguem chegar APÓS o fecho e que, estando as portas fechadas, batem e perguntam - "Já está fechada? Era só uma coisinha" - ao que dá vontade de responder - "Fechada? Você é tolo?Eu só fechei a porta por causa da corrente de ar!""Faça lá o favor de entrar!". E depois, quando lhe acenamos a dizer que já não é possível, ficam a olhar para nós a rogar uma praga da qual nem o Prof Bambo se lembraria, enquanto olham para o telemóvel e pensam, "São 23:05! Caraças, aquele tipo é uma besta! Custava-lhe alguma coisa deixar-me entrar?".
 Custava, custava-me o mesmo que custa a um GNR que apanha tipos ao telefone enquanto conduzem, não lhes passar a multa...só. Não é muito difícil de entender.

quinta-feira, 9 de março de 2017

Slave to the Wage

 O post de hoje é uma interrogação. Algo que devemos colocar a nós próprios, de modo a que possamos ser mais do que uma peça de xadrez.
 Trabalhas no que gostas? Não gostas, mas precisas? Ou  simplesmente - Não é esta a tua praia?
 Tenho-me deparado ao longo do tempo em que trabalho nas vendas, quando estou a trabalhar, com quem me catalogue quando estou a comprar, catalogando eu, em qual nicho nos inserimos.
 É por vezes difícil fugir a efectuar uma crítica, quando entramos numa loja qualquer e o funcionário/a, atende-te com um trombil que tu já não vias desde que o Jason tirou a máscara no Sexta-feira 13.
 Quando se trabalha no meio, temos tendência a ser mais condescendentes, mas há dias em que isso se torna difícil.
 Há uns dias reparei que uma cadeia internacional de grande sucesso tinha colocado um ponto interactivo onde se podia deixar a opinião sobre o serviço ao cliente. Achei uma boa iniciativa...até necessitar de ajuda.
 Percebo que, numa grande loja, onde 80% dos clientes são polvos que sofrem de Parkinson, deitando abaixo tudo á sua passagem, não se esteja com a melhor disposição, mas eu, era, quando muito, uma lula com Esclerose Lateral Amiotrófica e por isso incapaz de mexer em mais do que um artigo de cada vez.



 Mesmo assim a menina não se condescendeu e pese embora, em abono da verdade, me tenha trazido o que lhe pedi, o frio nórdico das suas respostas em conjunto com a sua expressão de Estado Islâmico em pré-detonação, não me deixaram dúvidas do quanto infeliz era e o frete que fazia em estar ali.
 Dirigi-me á caixa, na esperança de encontrar melhor semblante, mas o Carnaval não tinha acabado.
 Por isso, tive, naquele instante uma vontade extrema de me dirigir ao ponto interactivo de costumer service e dizer umas boas, mas sei o quão difícil está o mercado de trabalho e lembrando-me da música que vinha a ouvir no carro, decidi que não podia então, piorar ainda mais o dia, a quem não tinha conseguido escapar á monotonia de se ter tornado um "Slave to the Wage". Por isso fico-me com esta máxima - Se trabalhas no que gostas, valoriza o que ganhas, porque quando não se gosta no que se trabalha, provavelmente o ganho é secundário.



terça-feira, 7 de março de 2017

Charlie Brown´s Teacher


 Boas,

 Partilho hoje convosco aquilo que penso ser um fenómeno que acontece com alguns clientes no momento em que estamos a fazer a nossa venda. Nesse momento tentamos transmitir o melhor possível, características sobre o produto, de modo a que, para além do conforto sentido após um trabalho bem feito, evitarmos possíveis reclamações, porque - "Isso não me foi dito pelo seu colega!".
 Penso que tem algo a ver com o nervo auditivo, talvez este não seja compatível com o tom de voz do interlocutor, ou, então, se calhar é mesmo casmurrice e estão pura e simplesmente a borrifar-se para o que lhes estamos a dizer, retendo apenas palavras como, "desconto", "promoção", "preço", etc.




 O mais parecido que consigo encontrar para este comportamento é o mesmo que se passa na sala de aula dos Peanuts do Charlie Brown em que a Prof fala, fala, fala pelos cotovelos e que o que percebemos é uma ladainha do tipo "wha wha wha, wha wha, wha!"  

 A situação seguinte passou-se quando tentava vender um máquina fotográfica á uns anos. Estava sozinho na secção, quando abordo um senhor que olhava para um destaque de uma compacta.

 Após a normal saudação, perguntei-lhe se queria algo específico, ao que me respondeu - "Quero fotografar o Sr da Pedra"; "Gosto do mar, das ondas e aquilo ali é muito bonito!"-"Sim, é de facto!" respondi eu pensando que falava com alguém com sentido estético e por isso, porque era para isso que me pagavam, encaminhei o cliente para as máquinas Reflex e comecei a falar-lhe de diferenças, oportunidades, como tirar partido deste ou daquele conjunto, lentes, etc e finalmente aquilo que no meu entender, seria um bom negócio para ambos.
 Na altura, não valorizei a sua expressão facial, digamos que, tipo - Charlie Brown´s "Good grief" like espression -  por isso continuei com os argumentos.
 "Sim Senhor!" Disse-me - "O Sr percebe disto!", ( se os meus colegas estivessem lá comigo na altura, tinham-se entrincheirado no laboratório para que o riso não fosse muito audível) - "Mas eu prefiro esta!" - disse, apontando para a do topo de 89€. "Sabe, eu gosto é do mar! E vi umas fotos do Sr da Pedra na net e quero ir lá tirar também uma foto," - "Exacto!", "Não foi isso que estivemos a falar nos últimos dez minutos?", pensei comigo.
 Agora sei como te sentes Charlie Brown.

domingo, 5 de março de 2017

Momentary lapse of reason


Não, isto não é sobre um album dos Pink Floyd. O post de hoje fala sobre aqueles momentos  que a todos pode acontecer, em que, das duas uma, ou te deu uma paradinha em que ficas-te no limbo, como se a diferença entre o teu consciente e um paralelo fosse apenas na forma, ou perdes-te a razão e transformas-te te num clone do Trump sem a mínima noção do que dizes.
 Esta situação passou-se há uns anos quando trabalhava numa grande superfície, na qual se é abordado imensas vezes e onde surgem as perguntas e situações mais absurdas, em que até para um guião dos Monty Python seriam... digamos, estranhas.
 Era um dia como outro, um sábado de manhã, não muito cedo, quando fui abordado por um senhor, que após me cumprimentar, educadamente perguntou - " Olhe, sabe onde está o arroz e quanto custa?" - Respondo-lhe eu com - "Desculpe, mas sou da parte de informática e não estou por dentro, senão se importar ali no balc..." - de repente e interrompendo-me,  disse-me - "O QUÊÊÊ!!!!!"
 Sabem aquela cena no Senhor dos Aneis em que o Gandalf se enerva, fala mais alto e uma sombra negra se eleva? Pois foi isto em que se transformou o senhor.



 Tentei retomar a frase, mas fui de novo interrompido - "Voçê não sabe?Como é que é possível? Um colaborador tem de estar por dentro de todos os artigos!" - continuou, (estamos só a falar de uns 200.000 artigos, no big deal) - " Eu, na minha empresa de ferragens(...)" - quando acabou esta frase e de forma a preservar a minha sanidade, eu já tinha migrado mentalmente para Nibiru na constelação de Touro, mais ou menos a uns 359 anos luz da Terra e portanto estava num modo de consciência vulgarmente designado em Psicologia como alter ego. Este EU, nestes casos, (reclamações catalogadas de patetas), vem ao de cima e só reconhece a última palavra de cada frase do interlocutor de modo a que o discurso do reclamante possa ser intercalado por interjeições do género "hum, hum" ou pequenas afirmações do género, "Percebo perfeitamente!";"Sim, claro!" e afins. 
 Acabado o seu discurso empresarial, do qual sinceramente não retive uma sílaba e já mais calmo, deixa-me responder - " Posso indicá-lo ao balcão de informações?", "Certamente poderão dizer-lhe o que pretende".
 Puff, modo coelhinho da Páscoa outra vez! " Sim, claro!","Obrigado!".
 Abençoado Nibiru! Bem hajas por estar aí sempre para mim!



quinta-feira, 2 de março de 2017

Invisible

 Boas!

 Hoje partilho convosco um facto de que me apercebi e que ocorre muito a quem trabalha em retalho - o dom da invisibilidade - mas, atenção, para aqueles que pensam que basta ingressar na profissão e o feito é logo adquirido, desenganem-se.
 Isto não é um dom que consegues através do auto-controlo e meditação. Este dom, é-nos oferecido por alguns clientes beneméritos, que, em posse de um poder superior te deixam usufruir dessa maravilha da física que é desmaterializar-te até á última molécula.


 A última vez que fui visitado por um destes seres celestes, não foi á muito, tenho, por isso, ainda fresca na memória o privilégio que foi estar na sua companhia.
 Foi na parte da manhã, estava tudo muito sossegado, quando uma senhora aí dos seus cinquenta e picos entra e se dirige á parte reservada ao seu género da loja.
 Esperei uns momentos, para não dar a ideia de que estava desesperadinho por uma venda e dirigi-me a ela. " Bom dia!" disse-lhe com um sorriso. Esperei aí uns segundos e como não obtive resposta, pensei, "Não me ouviu, vou repetir" - "Bom dia! Posso ajudar?" - Deixo passar mais algum tempo, minutos, diga-se e... nada... Até aqui ainda não me tinha apercebido da metamorfose e pensei que podia ser uma turista que não percebesse Português e por isso, expressei essa ideia num tom um pouco mais alto - "Português?", (sim porque o pessoal tem esta mania estúpida de falar mais alto com outra pessoa que não tenha a mesma lingua na esperaça de ser entendido) - népia, nem um som.
 Alto, aqui há gato! Será que é surda? Eu não posso simplesmente entrar em convulsões comunicativas e esperar uma reação, deve haver aqui mais qualquer coisa! 
 Só para o caso de não estar a fazer ainda mais figura de parvo, acenei á colega da frente que, embora olhasse na minha direção, não esboçou a mais pálida resposta.
 Fez-se luz! Estou invisível, só pode ! Deixa-me tentar outra vez - "Se precisar de ajuda disponha!" - Nada!  Sou mesmo transparente! E a prova veio que, quando saiu da loja, a colega da frente cumprimentou-me!
 Wow  ! E é que não senti nada! Nadinha! Nem o menor pingo de consideração!